Minha recente viagem a Tapera (minha provinciana cidade natal de 10 mil habitantes situada no norte do Rio Grande do Sul) rendeu-me uma curiosa e extravagante descoberta, reveladora de uma grande revolução em curso por lá: deparei-me com um grupo de travestis na praça central da cidade. O que pode parecer banal para o habitante de um grande certo urbano é algo realmente digno de nota em se tratando de Tapera.
O mais surpreendente é a (pelo menos aparente) pacífica convivência entre os travestis e os demais cidadãos locais. Nas noites de sábado e domingo, especialmente durante o verão, é para a praça que se dirigem muitas famílias taperenses para fazer seu passeio, tomar um sorvetinho e apreciar o movimento. E para a mesmíssima praça acorrem esses 5 ou 6 travestis.
Não resisti: fui bater um papo com eles e acabei fazendo amizade e ouvindo histórias deliciosas sobre os bastidores da cidade. Dentro do grupo estava um rapaz de 17 anos, com seus cabelos compridos, roupas femininas, um inconfundível gingado ao andar e uma história de vida surpreendente. Professor de dança na escola municipal e aluno do curso de Magistério no Ensino Médio conservadoríssimo de Tapera. Ele é provavelmente o habitante mais inteligente de Tapera nos tempos atuais. Tempos diferentes daqueles em que eu vivia por lá e que mostram que a revolução invade até mesmo os pacatos municípios interioranos. Revolução feita não pelos donos da cidade nem pelos mestres das escolas, mas por gente como esse rapaz, que põe a cara a tapa e ocupa com dignidade seu lugar na praça, na escola, na cidade.
2 comentários:
que bom que estamos tendo essa oportunidade hoje em dia, de dar espaço e conviver com pessoas de coragem para serem - no sentido completo do verbo.
isso é bom para quebrar o preconceito das pessoas ditas 'normais' e encorajar mais pessoas a se encontrar!
pena que muitos ainda não enxergam essa oportunidade... =[
É, parece que alguma coisa está mudando... o interessante é que os discursos conservadores continuam os mesmos... Bom saber que em Tapera tem gente que transgride, pois em uma cidade pequena é tudo mais evidente, geralemente as pessoas se escondem e têm vergonha de se mostrar! Viva a praça heterogênea de Tapera!
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