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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Madonna col bambino e due angeli


Recebi hoje esse postal, que veio da Holanda, embora a postcrosser o tenha comprado em Firenze, na Itália. Traz a pintura de Filippo Lippi (pintor renascentista) que deu título a este post e que deve significar algo como "Nossa Senhora com o Menino e dois anjos" (um dos anjos está quase todo escondido atrás do Menino).

Como bom representante de sua época, o artista teve uma vida dividida entre o sagrado e o profano: foi frade carmelita mas teve muitos casos amorosos, e finalmente casou-se com uma noviça...

Impossível não comentar a extrema europeização com que ele retrata a Virgem, o Menino e os anjos, todos impecavelmente louros e aristocráticos.

__________________________________

Criei um outro blog, só para mostrar meus postais e falar sobre eles. O que não impede que volta e meia eles também apareçam por aqui, sob outros enfoques.

sábado, 25 de julho de 2009

Da América, um Hokusai

Kelly, uma garota estadunidense de 21 anos, enviou-me este postal, com uma pintura de seu artista favorito, Hokusai.

Assim sou levado a descobrir o pintor japonês que nessa obra assina como Katsuhika Hokusai e que viveu entre 1760 e 1849. A obra chama-se “Fuji Seen in the Distance from Senju Pleasure Quarter [Edo]”, algo como “O Fuji visto à distância do Senju Pleasure Quarter” e faz parte de uma série chamada “Thirty-Six Views of Mt Fuji”, “Trinta e seis visões do Monte Fuji”.



A gente pode se perder nessa gravura, há tanta coisa nela, você viu?: os homens, fazendo sei lá o quê, a plantação de arroz, as casas, e, sim, o sempre hipnótico Fuji.


O que você notou primeiro?

domingo, 31 de maio de 2009

Ave, Gioconda! (Ou A Evolução - Intertextualidade)

By Leonardo Da Vinci, 1503



By Marcel Duchamp, 1919

By Andy Warhol, 1963

By Giovanopoulos, 1989



By Mon Bijou, 1998


By Mauricio de Souza, 19??






By Moi, 2009






Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
By Murilo Mendes, 19??


quarta-feira, 25 de março de 2009

Dois gatinhos e uma pintura

No meu perfil do postcrossing (site do qual já falei aqui), entre minhas preferências de tipos de postais coloquei gatos e e obras de arte, além de várias outras. Hoje recebi dois postais. Um foi este, vindo da Finlândia, com estes amáveis bichanos.


E o outro, enviado por uma finlandesa que mora na Suécia, traz uma pintura de uma artista do país natal da remetente, chamada Saija Hairo. O quadro chama-se "Raskasta ja kevää", que significa "Pesada e só", segundo o Google Tradutor. Gostei imenso destas cores e da combinação entre elas (o cartão-postal tem exatamente este tamanho):

Cada vez mais, simpatizo com esse lugar chamado Suomi, que de tempos em tempos me manda coisas simples e belas em papel cartão.

Fazia tempo que eu não mostrava postais recebidos. Os Correios brasileiros estão lentíssimos desde o final do ano passado. Por causa disso, os postais enviados daqui demoram meses para chegar a outros países e, por conseguinte, tenho recebido postais com muito menos freqüência.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Madonna e Jesus

Estas fotos da Madonna com o Jesus Luz no Rio de Janeiro (ensaio para a revista W) certamente já estão em todos cantos da internet, mas eu também quero tê-las aqui. Nada mais profano (ou sagrado? ou entre o sagrado e o profano?) do que... Madonna e Jesus, com todos os significados implícitos nesses nomes e nestas fotografias.














terça-feira, 11 de novembro de 2008

Se você sonha com nuvens

as palavras escorrem como líquidos
lubrificando passagens ressentidas
[1]

Os dois versos acima constituem um poema independente publicado no livro Inéditos e dispersos, de Ana Cristina Cesar. Neles, o signo verbal aparece com a capacidade de colocar em movimento, por seu poder de lubrificação, “passagens ressentidas”, expressão de certa ambigüidade: ressentidas significa que essas passagens são marcadas pelo ressentimento ou que elas são sentidas novamente? De qualquer forma, há o reconhecimento de uma certa propriedade pertencente à palavra, a de aliar-se a outros signos adquirindo, assim, novos significados, que é colocada em prática em “Se você sonha com nuvens” (bordado sobre voile, 1991), de Leonilson. Essa mostra-se como uma obra de grande simplicidade, mas dotada de uma profunda significação, graças ao modo como é construída, aliando a linguagem visual à linguagem verbal, o que possibilita a construção de novos significados a partir de signos já existentes.
O primeiro apelo da obra é certamente visual: o que vemos é uma cruz, símbolo universalmente conhecido, ainda que ligado a significações plurais. Essa cruz não é de madeira, nem de metal como estamos habituados a ver. É uma cruz de tecido branco: um pedaço de voile com bainhas forma a parte vertical da cruz, sobre o qual um outro pedaço menor e também com bainhas é costurado, formando a parte horizontal. Sobre o pano, foram bordadas duas frases em preto. Na parte vertical da cruz lemos: “Se você sonha com nuvens” (que corresponde ao título da obra). E na parte horizontal, escrito de baixo para cima: “A distância entre as cidades”. Finalmente, a última coisa a ser vista é a existência de quatro furos nas extremidades superiores da cruz, a permitir que ela seja pendurada numa parede.
A cruz, além de tantas outras significações a ela associadas, é o símbolo mais difundido do cristianismo, sendo sua origem o instrumento de tortura e morte empregado pelos romanos e com o qual Cristo foi morto, segundo os Evangelhos. A cruz simboliza, então, ao mesmo tempo, o sofrimento e a redenção alcançada por meio dele. Embora o signo da cruz remeta imediatamente à religião cristã, ele possui significados bem mais antigos e mais amplos que podem ser evocados para a leitura dessa obra:

O significado arquetipal do símbolo da cruz é sempre o da conjunção dos opostos: o eixo vertical (masculino) com o eixo horizontal (feminino); o homem com a mulher; o superior com o inferior; o tempo com espaço; o ativo com o passivo, o Sol com a Lua, a vida com a morte.[2]

Além disso, o signo da cruz vincula-se modernamente a outros significados, como a morte (devido a seu uso fúnebre) e o socorro médico-hospitalar, além de constituir o símbolo da adição na matemática. Portanto, a apropriarção do signo da cruz carrega a obra de uma gama de possíveis significações. Mas a presença de outros elementos constituintes da obra vai operar também uma ressignificação desse signo.
O fato de essa cruz ser confeccionada com tecido, e um tecido leve e delicado como o voile, dissolve, de certa forma, o caráter religioso da cruz, fazendo-a perder sua imponência e majestade de insígnia cristã, tornando-a frágil e suscetível a ser rasgada e suja. O pano branco que é a matéria-prima dessa cruz pode, também, ressaltar seu aspecto “hospitalar”, tanto por sua alvura quanto por remeter à gaze com que se limpam as feridas e se fazem curativos. Além disso, a sua brancura torna-a como que esvaziada, apagada de sentido e passível de ser preenchida com a escrita, com as idéias e a interpretação de alguém, como o faz o próprio autor ao inserir nela suas frases. Ao fazê-lo, ele aponta não para uma harmonização e integração dos opostos, da qual a cruz seria símbolo, mas justamente para a tensão entre eles.
Assim, as duas frases inseridas na cruz seriam pontos de vista e estados mentais opostos e inconciliáveis. De um lado, o sonho com nuvens, o universo da fantasia, do devaneio, do otimismo onde tudo é possível e não existem barreiras ou privações. Do outro, o mundo concreto e repleto de contradições, feito pelas mãos humanas e representado pela cidades, distanciadas entre si por um espaço que jamais é preenchido. Pode-se até buscar refúgio em um estado de eterno sonho, mas não esperar que do sonho resulte a solução dos conflitos existentes, pois “se você sonha com nuvens”, “a distância entre as cidades” permanece.
Pode-se afirmar, então, que o signo da cruz resta completamente desconstruído: primeiro, perde sua força e seu caráter redentor, depois, mostra-se incapaz de conciliar opostos, restando-lhe apenas utilidade como curativo para feridas advindas, justamente, da não-redenção e da não-conciliação. Ao inserir na cruz apenas duas frases, deixando nela ainda muito espaço em branco, o autor convida que cada um imprima nela sua própria leitura, sua própria ressignificação. Ao utilizar-se do bordado para escrever, atribui sentido ao símbolo não de forma bruta e impositiva, como o fazem os líderes (homens), mas com a delicadeza, silêncio e suavidade das bordadeiras. Finalmente, os furos que tornam a obra apta a ser pendurada na parede permitem que ela seja ali ostentada como os crucifixos de madeira, prata ou ouro que adornam ou templos ou outras repartições, religiosas ou não. Assim, o artista oferece a esses lugares uma cruz despida de alguns de seus traços tradicionais, como a rigidez do material, e revestida de novas significações. Uma cruz leve, “dócil” e maleável, que aceita inclusive ser vista simplesmente como uma... cruz.

[1] CESAR, 1998, p.87
[2] PELLEGRINI, Luís. Cruz: símbolo da união dos opostos. Planeta - Símbolos Esotéricos. São Paulo: Ed. Três. n. 129A. Jun. 1983. p. 10-13

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Hedonista

Uma vez li um comentário - no orkut, acho - de uma pessoa que comparava o pop de Madonna ao de Kylie Minogue. Segundo essa pessoa, a grande diferença entre as duas está no fato de que Madonna faz um pop visceral, enquanto Kylie Minogue faz um pop frio. Achei uma boa avaliação. Gosto das duas e concordo com o comentário, que guardei na memória.
De acordo com esse critério de classificação, as coisas que escrevo estão muito mais alinhadas com a Kylie do que com a Maddy. Meus textos, e, por conseguinte, meu blog, são frios, e não viscerais. Não escrevo para expressar nada - sentimentos, emoções, sensações. Não escrevo por necessidade. Necessidade lembra obrigação, e o que é obrigatório torna-se chato, monótono. Na última vez em que lecionei Língua Portuguesa, notei que as meninas estavam sempre escrevendo bilhetinhos e recadinhos na agenda das outras, e os meninos estavam sempre escrevendo piadinhas e letras de rap. Mas quando o ato de escrever tornava-se obrigação, era sempre visto como algo enfadonho.
Escrevo, como meus ex-alunos da 6ª série, por prazer. Só. Sobretudo, escrevo textos cuja leitura me seja prazerosa. Textos que eu gostaria de ler. Faço o blog da maneira que ele me seja mais agradável, textual e visualmente. Depois de postar, fico contemplando-o, relendo. Às vezes mudo alguma coisa. Não para me expressar melhor. Mas para sentir mais prazer. (Ia escrever "para gozar melhor", mas achei muito despudorado para a persona com a qual escrevo hoje.)


"Literatura não é documento, foi Ana mesmo quem disse"
(Ítalo Moriconi, IN: "Ana Cristina César - o sangue de uma poeta")


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

16 de agosto: Dia de Santa Madonna

(Ler ao som de Love Profusion

)


Ela é incontornável e incomparável. A Deusa de mil faces faz hoje 50 anos, mas na verdade ela nasceu 10 mil atrás.

Quem é Madonna? Há que se inventar uma teologia que tente dar conta desse Mito. Teologia que há de ser mais complexa do que a que trata da Santíssima Trindade. O mistério de um só Deus em três pessoas? Coisa do passado! Muito mais profundo e imponderável é o mistério de todas as mulheres numa só Deusa. Santíssima Infinitude.

Não sei dizer de qual Madonna gosto mais. A material girl me alegra, a queima-cruzes me provoca, a puta me excita, a mística me põe em êxtase, a democrata me empolga, a confessional me faz querer ser ela. Uma vez conquistado por ela, depois de ter contemplado seus olhos de medusa, impossível renegá-la.

Se tivesse de defini-la em uma palavra: ANÁRQUICA. Madonna triunfa do sistema, que põe de joelhos diante de si própria. Em seguida, ela quebra sua imagem de barro e escandaliza seus adoradores, para, então, oferecer a eles cópia ainda melhor de si. E o ciclo se cumpre. e o ciclo recomeça.

sábado, 21 de junho de 2008

Viajando pelo Pantanal


Esse mês foi pobrinho em postagens... Apenas uma até agora!!! Que vergonha!!!

Uma desculpa eu tenho e vai ser o tema desse post. É que tenho andado ocupadíssimo a assistir à novela que o SBT, por uma idéia brilhante de Silvio Santos, recolocou no ar. Pantanal, a novela da extinta TV Manchete, produzida em 1990 e que se tornou um dos maiores clássicos (senão o maior) da teledramaturgia brasileira. Pantanal é daquelas coisas sobre as quais sempre ouvi falar, mas que nunca havia tido a oportunidade de ver.

Pantanal é absolutamente cinematográfica. Não é uma novela como as outras. Apresenta imagens lindíssimas, trilha sonora impecável, diálogos precisos, personagens emblemáticas e uma trama absolutamente envolvente. O ambiente selvagem, exótico, natural, invade nossa casa a cada vez que a novela começa. Cada capítulo é uma viagem de exploração à Natureza. A natureza selvagem e a natureza humana. A natureza brasileira e a natureza universal.

Fico feliz que Pantanal esteja obtendo bons índices de audiência e colocando o SBT na frente da terrível Rede Record, cujas produções de dramaturgia nem mesmo são dignas desse nome. É mais uma lição que aquela época envia à nossa, tão superficial e vazia...



Cristiana Oliveira, a Juma, de Pantanal

P.S. Hoje, Solstício de Inverno, Yule

terça-feira, 27 de maio de 2008

Minha vida de cão (My so-called life)

(O "Brasil" junto ao logotipo foi colocado ali pela pessoa que disponibilizou a foto)



Não, não, eu não vou me queixar da vida aqui. O título do post refere-se a um seriado norte-americano que marcou minha adolescência e do qual vou falar aqui. (É engraçado, tenho tido crises de memorialismo, que me fazem buscar coisas nos baús da memória a apegar-me a elas como se pudessem trazer de volta tempos passados. Às vezes eu quero de volta os anos 80, e os busco vendo vídeos da Mara Maravilha no youtube. Às vezes busco nos sebos revistas que li nos anos 90. Outras vezes são trilhas sonoras de fimes e seriados...)
Como esta que baixei hoje, a trilha sonora de "My so-called life". Conheci essa série através de meus irmãos mais velhos, que moravam em Porto Alegre e tinham TV a cabo. Porque a série foi exibida pela primeira vez no Brasil (com o nome de "Minha vida de cão") no canal Multishow. Meus irmãos tinham todos os episódios gravados em VHS e, certa vez em que fui os visitar, assisti a todos e encantei-me. Isso foi em 1995, quando eu tinha 14 anos. A idade das personagens centrais da série era esta: 15, 16 anos. Diferentemente de séries como "Barrados no Baile" e "Malhação", essa era uma série inteligente, realista e longe de clichês. As personagens eram de classe média e baixa, moravam no subúrbio e tinham seus problemas que iam além de musculação e "com que roupa vou na festa?"
Algum tempo depois o SBT exibiu a série também, primeiramente com o título "Meus 15 Anos" e, depois, "Minha vida de cachorro". Foi então que gravei os episódios em VHS, a maioria dos quais conservo até hoje. A série teve apenas 19 episódios e a personagem principal, Angela, foi interpretada pela atriz Claire Danes, que, mais tarde, fez o papel de Julieta no filme Romeo+Juliet.
Acho que me identifiquei muito com aquela série porque ela tinha um tom melancólico, blasé e quase pessimista, características que eu também tinha naquela época. Não era muito "colorida" e não mostrava a vida dos jovens como uma grande curtição. Além disso, a Angela era muito introspectiva e vivia fazendo reflexões muito interessantes sobre o mundo, o que rendia ótimas metáforas e monólogos interiores a cada episódio. Enfim, era algo bom demais para durar muito tempo na TV.


Abertura do seriado:





P.S. Caso alguém chegue aqui buscando um link para download da trilha sonora oficial do seriado, AQUI tem o tal link. E caso alguém se interesse, AQUI tem um link para um site bem legal feito por fãs sobre a série (em inglês)
P.P.S Links para o download da série completa podem ser encontrados na comunidade do Orkut "My so called life", localizada AQUI.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Epílogo


Vídeo de autoria de Maria Flor do Brasil, inspirado no "Epílogo" do livro "Luvas de Pelica", de Ana Cristina Cesar


* Através dessa curta cena, o eu-lírico construído por Ana Cristina Cesar permite ao leitor visualizar figuradamente em que consiste sua poética, de onde e por que ela nasce e, mesmo, como deve ser lida. Ao fazê-lo, ele revela a própria concepção de criação poética que orienta o eu-lírico: o poeta aparece aqui não como aquele que busca no seu âmago os sentimentos e experiências internas com os quais tece sua poética, mas como aquele cuja atividade é semelhante à do mágico, que leva os outros a experimentarem sensações que ele próprio sabe não passarem de ilusões criadas por seus truques e artimanhas. A teia de referências criada por Ana Cristina, através das diversas situações, lugares e vivências sugeridas pelas imagens e pelos escritos presentes nos cartões-postais surge então como uma tentativa do eu-lírico de multiplicar-se, de ser muitos, ou de ser capaz de envolver com sua própria subjetividade todas as possilbilidades de existência que ele vislumbra. Não se pede ao leitor que ele admita que os objetos de ficção são ‘como a vida’, mas sim que ele participe da criação de mundos, por meio da linguagem.[1] Assim, o procedimento da poeta consiste em traduzir imagens em palavras. A palavra remete à imagem, e a imagem abriga em si a significação plural e ambivalente dos mundos que ela deseja criar.


[1]
1. VIEGAS, Ana Cláudia. Bliss & Blue – Segredos de Ana C. São Paulo: Ed. Annablume, 1998


*Trecho de um ensaio de minha autoria, cujo título é "A arte como ilusionismo em Ana Cristina e Leonilson"

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A indefinível arte de Leonilson

Se você sonha com nuvens, bordado sobre voile, 1991


Uma primeira questão que se impõe a quem analisa a obra de Leonilson é o problema a respeito de sua classificação. Uma vez que ele não apenas trabalhava com vários tipos de materiais e recursos estéticos (desenho, pintura, bordado, escrita, escultura e outros), mas os misturava entre si, torna-se muito difícil catalogá-lo como pertencente a esta ou àquela expressão artística. Além disso, não menos dificultosa revela-se a tarefa de classificar internamente o conjunto da criação de Leonilson reunindo suas obras em subgrupos, visto que a definição de um critério para tanto mostra-se problemática. Se optamos por classificá-las pelo material ou pela técnica empregada, teremos o problema das obras que utilizam diversos tipos de materiais e técnicas. Se escolhemos uma classificação cronológica, surge o problema dos parâmetros a serem seguidos ao definir limites entre supostas “fases” do artista, além do perigo de se confundir as fases de sua vida com as de sua obra. Uma outra possibilidade seria a de tentar estabelecer temáticas recorrentes a partir das quais fosse possível constituir grupos de obras. O estabelecimento de tais temáticas, no entanto, mostra-se sempre subjetivo e intimamente ligado a uma leitura pessoal das obras. Talvez esse seja, justamente, o único caminho para um confronto produtivo com a obra de Leonilson e, quiçá, de todo e qualquer artista: o desvelamento de cada obra mediante a leitura de cada um de seus elementos e a descoberta da linguagem única empregada em cada peça, para, depois, investigar também a maneira como elas dialogam entre si. Em vez de tentar classificar, ordenar, rotular, parece que o melhor a fazer é penetrar passo a passo, obra a obra, no conjunto da obra do artista, para verificar como e em que medida esse fruto de uma experiência pessoal transformada em linguagens comunica-se com as experiências universais.
Coração em chamas (título atribuído), escultura em bronze fundido, sd

Veja mais obras do artista no site do Projeto Leonilson

domingo, 13 de abril de 2008

Piaf - La Môme


Assisti ontem ao filme que, no Brasil, recebeu o título "Piaf - Um hino ao amor", e cujo título original é "La Môme". O filme que conta a vida da cantora francesa Edith Piaf, uma das maiores ídolas daquele país e mundialmente conhecida. Dona de uma voz imponente e autora de interpretações colossais que se tornaram referência para inúmeros cantores, Piaf teve uma vida conturbadíssima, desde sua infância em extrema pobreza até a morte prematura, acelerada em decorrência do consumo de álcool e drogas.
O filme recebeu o Oscar de melhor atriz nesse ano, e não há como não concordar que Marion Cottilard merecia o prêmio. Piaf parece ter encarnado nela: seu rosto transfigura-se, seu corpo todo transmite a vibração e a visceralidade da cantora, seu rosto hipnotiza nas cenas em que Piaf aparece cantando. O filme conquista, sim, mas , na verdade, quem conquista é Edith: seria muito difícil fazer um filme ruim com uma personagem tão boa interpretada por uma atriz excelente. O filme é Edith, Edith é o filme.
E quem é Edith? Edith é "la môme", a criança, a adolescente, aquela que põe toda sua alma, todo seu corpo em tudo o que faz. É aquela que sente no mais profundo de seu espírito o vazio de sentido da vida para depois descobrir a plenitude na entrega total, no amor desmedido, no abandono de si. Um dos momentos mais tocantes do filme é a cena em que ela sai para jantar com o lutador Marcel, por quem ela se apaixona e com quem vive um romance mesmo ele sendo casado. O olhar apaixonado de Edith/Marion, seu encantamento perante o homem amado é tão doce, tão ingênuo e comovente que, por si só, justifica o nome do filme. Já a cena em que ela fica sabendo que seu amado morreu na queda de um avião é de uma carga emocional tamanha que, diante dela, fico sem ter o que dizer.
Li comentários na internet contando que, em vários lugares do Brasil, as exibições do filme nas salas de cinema eram aplaudidas de pé pelas pessoas. Também li relatos de sessões em que, ao término do filme, os espectadores simplesmente permaneciam sentados, mudos, petrificados diante do impacto da cena final e do filme como um todo. Não estamos mais acostumados a contemplar a verdadeira arte, a arte visceral, a entrega completa, a vida transformada em eternidade. Por isso ficamos paralisados quando, de alguma forma, ela se manifesta a nós.

domingo, 2 de março de 2008

Ouvindo... Baby Consuelo




Algo que aprecio muito é conhecer a obra inteira de um artista. No caso da música, isso significa percorrer toda a discografia de algum cantor ou grupo. Na primeira vez em que fiz isso, eu era ainda adolescente: fui comprando todos os CDs da banda Legião Urbana e também os trabalhos solo de Renato Russo. Isso levou algum tempo, pois eu não tinha dinheiro para comprar mais do que um CD por mês, além de ser difícil de encontrar os discos mais antigos (onde eu morava nem havia loja especializada em discos). Hoje, com a internet, é algo bem mais fácil: basta procurar um link e fazer o download do álbum desejado.
Atualmente, estou explorando a discografia de uma cantora muito controvertida, a começar pelo seu nome: outrora Baby Consuelo, hoje Baby do Brasil. Ela começou sua carreira junto ao grupo Os Novos Baianos, em 1969, no qual permaneceu até o final de década de 70, quando iniciou sua carreira-solo. Esse grupo marcou época na música brasileira, tanto pela musicalidade quanto pelo estilo e pela filosofia de vida: remanescentes do movimento hippie, viviam em uma comunidade com ares anárquicos. Em sua carreira solo, Baby preservou algumas das características do grupo: fundia em suas canções elementos do rock com elementos de várias vertentes da música popular brasileira. Na década de 80, tornou-se adepta de uma corrente esotérica liderada por Thomas Green Morton, que passou a influenciar seu repertório e seu visual, cada vez mais exótico. Finalmente, tornou-se evangélica e hoje canta apenas música gospel.
Dos discos que já ouvi de Baby, meu preferido pode ser considerado seu último álbum de verdade: "Sem pecado e sem juízo", de 1985 (ano em completei 5 anos de idade). Depois desse, ela lançou apenas alguns trabalhos, digamos, menos interessantes. "Sem pecado e sem juízo" é impregnadíssimo pelo esoterismo de Baby. Até na capa aparece a palavra divulgada por ela como tendo poderes mágicos, o famoso "rá", que em algumas músicas ela também repete. Ainda na capa, ela aparece usando garfos entortados como colares (seu mestre espiritual alegava ter poderes paranormais e entortava garfos com esses poderes). Nas letras das canções, ela fala de experiências místicas, energias cósmicas, mas também de sensualidade e paixão. E as músicas transitam entre baladas pop, rock com abuso de solos de guitarra (à la Pepeu Gomes), e ritmos nordestinos, numa salada que resulta muito interessante e é completada pela voz doce de Baby, que a gente nunca sabe direito se está afinada ou não, mas que sempre acaba seduzindo por sua unicidade.
Vale à pena conhecer o trabalho dessa artista tão singular e que poderia ter rendido coisas ainda melhores se tivesse sido mais valorizada e bem aproveitada. De qualquer forma, ela é uma legítima representante de uma época cheia de loucuras, mas plena de vida e exuberância. Infelizmente, com sua conversão ao evangelismo ela dificilmente voltará a produzir qualquer coisa que não sejam hinos religiosos...






segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Britney, a musa underground


Quase sempre olho com desconfiança para quem critica Britney Spears. Quase sempre tais críticas são (in)fundamentadas em preconceitos - "ela é uma vagabunda, uma drogada, uma celebridade decadente" - ou em uma visão limitada - "ela não tem talento, é construída pelo marketing, só vive de mídia".
Tudo isso é verdade, mas não serve para criticá-la. No caso de Britney, todos esses pecados constituem virtudes. Sim, virtudes, porque fazem dela o retrato de nosso tempo, de nossa sociedade. Criticamos em Britney aqueles pedaços de nós mesmos que não ousamos assumir. Britney é o resultado perfeito e acabado (sem trocadilhos) dos valores da sociedade norte-americana.
Mais do que isso, Britney, em sua atual esquizofrenia, parece lutar desesperadamente para libertar-se das imagens construídas para ela - primeiro, a donzela linda e pura, depois a mulher super-sexy - e afirmar-se com uma imagem que seja autêntica.
"Piece of me", música de seu disco mais recente, é um tapa na cara (ou um golpe de guarda-chuva) em quem ainda não entendeu essa luta.
Viva Britney, a musa underground!


Tradução de "Piece of me"

Eu sou a Miss "Sonho Americano"
Desde os meus 17 anos
Não importa se eu estou em cena ou fugindo para as Filipinas
Eles continuam colocando fotos da minha bunda nas revistas
Você quer um pedaço de mim? Você quer um pedaço de mim...
Eu sou a Miss carma da mídia
Um outro dia um outro drama
Acredite eu não vejo problema
Em trabalhar e ser mãe
Com meus filhos nos meus braços
Eu continuo uma exceção
E você quer um pedaço meu
Eu sou a Miss estilo de vida ricos e famosos
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "Oh meu Deus é Britney a sem vergonha"
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "Extra! Extra!, essa é boa"
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "ela era tão gorda e agora é magra"
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "você quer um pedaço de mim?"
Tente me aborrecer
Bom faça como o paparazzi
Que me aborreceu
Espere que eu vou começar um "barraco"
E acabar em uma corte
Agora você quer um pedaço meu?
Eu sou a Miss "A que mais aparece na TV por "aprontar" na rua"
Quando estou indo ao mercado, não, na real
Você esta brincando comigo?
Causando pânico na indústria
Eu quero dizer, você quer um pedaço meu
Eu sou a Miss estilo de vida ricos e famosos
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "oh meu Deus é Britney a sem vergonha"
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "Extra! Extra!, essa é boa"
(você quer um pedaço de mim)
Eu sou a Miss "ela era tão gorda e agora é magra"
(você quer um pedaço de mim)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Padres Nossos





Os reverendos que embelezam as fotos acima são padres italianos que posaram para um calendário só de fotos de padres e seminaristas (ver matéria no Terra). Ao ler a matéria e ver as fotinhos só pude pensar: elas têm que ir para o meu blog! Afinal, há algo que ilustre melhor a tensão entre o sagrado e o profano do que esses bambinos? A beleza deles retratada no calendário pode servir, sim, para edificar almas cristãs, conduzindo-as à devoção e à gratidão a Deus, Autor de toda Beleza... Mas também pode inspirar os mais carnais desejos em homens e mulheres. Podem ilustrar sonhos e pensamentos de natureza bem distinta da religiosa. E podem, finalmente, provocar as duas espécies de sentimentos nas mesmas pessoas. Afinal, o que impede que alguém sinta-se, ao mesmo tempo, devotíssimo a Deus e excitadíssimo pela sensualidade do padre?

(Gracias a Mariana, que falou dos padrecos no blog dela e garantiu que eu postasse alguma coisa nesse sábado preguiçoso e sem inspiração....)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Puros e duros




Em “Puros e duros” *, a diversidade de cores e tamanhos das pedras, bem como a assimetria de sua disposição sobre o tecido parece indicar, por um lado, o desejo de pluralidade que permeia o artista em seu ímpeto de abraçar o mundo com sua criação. Além disso, as pedras representam a condição dos próprios artistas; as pedras, aqui, são os artistas. E os artistas é que são, então, puros e duros. Puros, porque em sua atividade de criação assumem características divinas, pois os deuses são os criadores por excelência. Mas, ao mesmo tempo, duros, porque essa atividade exige que estejam cobertos por uma carapaça que os proteja da violação de sua subjetividade. Os artistas apresentam características variadas, mas, assim como as pedras, em sua maioria, são dotadas de uma cor que não permite a visualização de seu interior, na maior parte do tempo o artista também oculta sua interioridade travestindo-a em cores e formas. Apenas uma das pedras é transparente, e justamente esta apresenta-se deslocada entre as outras que lhe estão próximas e que formariam, não fosse o deslocamento da pedra transparente, uma linha reta. Assim, a verdadeira interioridade do artista não se deixa ver senão em raros momentos, que constituem como que deslizes do artista: ela não deveria estar ali, mas insinua-se num momento de fraqueza do criador. O verdadeiro ouro de artista são as ilusões que ele consegue oferecer como verdadeiros, seu sucesso está exatamente em fazer crer ao outro que ele está vendo algo que, na verdade, é invenção sua. **


* Leonilson. 1991. Bordado e pedras sobre tecido. 24 x 20cm
** Trecho de um ensaio meu já publicado