sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O poder da narrativa em "O jardim secreto"

Escrito dentro do espírito do Romantismo, “O jardim secreto” (1912), de Frances Hodgson Burnett, apresenta como uma de suas questões centrais a transformação pela qual suas personagens principais passam ao longo da diegese, a partir da reconstrução que fazem das narrativas sobre si próprias. De uma situação inicial caracterizada pelo sofrimento, pela solidão e pela apatia, elas são guiadas pelos acontecimentos narrados a uma nova condição, marcada pela plenitude. Assim, a garota Mary Lenoxx, que, após a morte de seus pais na Índia, vai morar na imensa e escura casa de seu tio na Inglaterra, sai pouco a pouco de uma existência ensimesmada e passa a se aproximar das pessoas e a compreendê-las, bem como ao mundo que a rodeia. Da mesma forma, o garoto Collin, primo de Mary que nunca saía de seu quarto por julgar-se inválido e enfermo, acaba por descobrir-se saudável e cheio de vida. E também o Senhor Craven, tio de Mary, que após a morte de sua esposa tornara-se um homem amargurado e fechado em si mesmo, descobre razões para voltar a sorrir. Mas que acontecimentos são esses, capazes de desencadear tais metamorfoses?
O episódio central da narrativa consiste na descoberta, por Mary, de um jardim que estava fechado e abandonado havia 10 anos, desde a morte de sua dona, a esposa de Craven. Ao entrar no jardim, ela vê que o abandono o havia deixado à beira da morte. Com a ajuda de Dickon, irmão de uma das criadas da mansão, que encarna o espírito romântico em seu modo de viver plenamente livre e em harmonia com a natureza, ela passa a cuidar do jardim, que volta a florescer com vigor total. Paralelo ao desabrochar do jardim, ocorre o desabrochar de Mary: o contato com a natureza e com as pessoas muda-lhe o comportamento, a personalidade e até mesmo a aparência. A descoberta do jardim faz com que Mary olhe para fora de si mesma, vendo que há outras coisas além do interior daquela casa sombria e outras pessoas além de si própria. O imaginário de Mary vai, aos poucos, sendo preenchido por novas idéias e novas possibilidades, permitindo que ela reescreva a narrativa que havia sido escrita pelas outras pessoas sobre ela e que ela havia aceitado como sendo verdadeira: de que ela era uma menina feia e antipática, de que ninguém gostava dela e de que ela estava condenada à solidão e ao esquecimento.
A presença da “narrativa dentro da narrativa” é uma constante ao longo de todo o romance. Embora o romance seja construído através de um narrador em terceira pessoa, suas personagens estão a todo momento narrando coisas: episódios, cenas reais, imaginadas ou recriadas pela imaginação, a respeito de si próprias ou de outrem, que elas contam umas às outras e que movem, em grande parte, a narrativa do próprio romance. Elas revelam-se quase como co-narradoras, tamanha é a importância da voz que lhes é conferida. Na verdade, é por meio dessas narrativas que as personagens parecem tomar contato com o mundo que as cerca e com as outras pessoas. Assim, o conteúdo de tais narrativas acaba por determinar seus comportamentos. É o que ocorre com o garoto Collin: todos sempre haviam falado que ele era doente e não viveria muito tempo, as pessoas comentavam que ele se tornaria corcunda e inválido, e ele aceitava como verdade essa ficção criada sobre ele, a ponto de viver fechado em seu quarto, sem sair da cama ou ver a luz do sol. Até o dia em que ele é descoberto por Mary, sua prima, que já havia descoberto o jardim, e que vai povoar o imaginário do menino com elementos novos, com um mundo de vida e cores ao narrar para ele todas as suas descobertas. Mary introduz Collin num processo semelhante ao que ela já havia vivido: leva-o a vislumbrar o novo, a abrir os olhos diante do mundo e a reescrever sua própria história.

11 comentários:

Johny Farias disse...

Só mesmo um sentimento positivo pra dar vida a flores mortas.

Nunca li o conto não Diom?
Tem algum link?

abs

Anônimo disse...

Nossa tem livro também?
o filme é legal...

quero ver se leio depois...


flws

magia disse...

Amanhã vou escrever sobre o filme.

reflexões disse...

lindoooooo o livro, e o filme tb é válido ver.... aproveitem p se deliciar com essa história comovente e linda!!!

Filipe Marques disse...

Dizem que os filmes nem chegam aos pés dos livros, quando é feito a leitura para as telas...
Já vi o filme, e gostei mto, será que o livro é melhor tb?
só vendo

abraços

Willian disse...

O_O legal esse livro
我喜欢了! 太好 !!
这个很棒我要 呵呵呵呵呵
再见

CUIDADO disse...

Essa história me lembra infância,gostinho bom :)

BLOGDOED disse...

"Até o dia em que ele é descoberto por Mary, sua prima, que já havia descoberto o jardim, e que vai povoar o imaginário do menino com elementos novos"


Essa parte deve ser uma metáfora da adolescência, né?

Um menino sendo povoado por imaginários novos, a prima é a própria adolescência...

Viajei?

Abraços

: ) disse...

Gracias por tu visita , siemnpre es grato recibir nuevos amigos .
Me he tardado un poquito en entender , pero tenme paciencia .
Un abrazo !!

pato disse...

Mi otro blog ( pato )

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado