quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quem sabe o que é um deco?

Eu não sabia o que era um até bem pouco atrás, até conhecer uma comunidade orkutiana chamada "Decos & Fbs". Agora já sei o que é um deco, mas é bem difícil explicar. O que é um deco?? Vejamos se consigo definir: é uma criação artística coletiva e também um hobby. Sim, um deco é isso, mas essa definição não diz o que ele é. Materialmente, um deco é um bloquinho de papel confeccionado pela própria pessoa, tendo, geralmente, entre 6 e 10 páginas. Tem tamanhos variáveis, mas, em geral, cabe dentro de um envelope comum, já que é feito para ser enviado pelo correio. Um bloquinho de papel feito para ser decorado coletivamente. Essa é sua função e é daí que vem seu nome: deco, de decorado. A pessoa que o confecciona decora a primeira página (a capa) e o envia a outra pessoa, que decorará a segunda página e o enviará a outra pessoa, e assim por diante. A decoração quase sempre é feita com recortes de revistas, fitas, lantejoulas, retalhos de tecidos. O deco pode ter um tema específico ou ser livre. E geralmente é dedicado a outra pessoa. Assim, quando ele estiver totalmente decorado, o último a decorá-lo o envia a essa pessoa, cujo endereço deve constar na segunda capa. Mas pode também ser "dedicado" à própria pessoa que o criou.
Já recebi alguns decos de cuja decoração participei, e até já criei alguns também. É algo bem divertido e lúdico, quase viciante. Mas que provoca uma verdadeira bagunça na casa, pois é necessário lidar com uma infinidade de papéis, etiquetas, recortes, enfeites... impossível manter a ordem em meio a tanta coisa!
O curioso foi descobrir que, mesmo em tempos de internet, continua vivo um intenso intercâmbio postal entre pessoas dos mais variados lugares, nacional e internacionalmente. Os decos e as trocas de cartões postais, de que já falei anteriormente, são apenas alguns dos inúmeros tipos de trocas existentes. Existem também, por exemplo, os FBs, as bags, os travelling notebooks... (que talvez eu vá explicando posteriormente). O que demonstra que o intercâmbio virtual não satisfaz totalmente a muitas pessoas. A presença material, mesmo que através de uma carta, de um deco, permanece sempre cheia de significado. Assim como o computador não consegue nunca substituir o livro, a internet não chega a substituir a correspondência postal. São coisas complementares, não oponentes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tempo de revolução

Encerrou-se o tempo em que o direito de ter uma voz era restrito a pouquíssimas pessoas. O tempo em que meia dúzia de pessoas ditavam suas nobres e inquestionáveis verdades a todas as outras. A revolução trazida pela internet vai muito além dos modismos e dos relacionamentos virtuais via msn e sites de relacionamento. A grande virada provocada pela rede consiste no fato de ter dado voz a milhões de pessoas que antes eram apenas receptoras de opiniões, informações e verdades prontas.
Cria-se uma nova Grande Voz, formada por milhões de vozes, que hoje questiona, contesta, provoca, desafia, fornece informação divergente da oficial. Ao mesmo tempo, a antiga Grande Voz, a da velha imprensa, dos jornais, da televisão, dos jornalistas (sempre defensores dos interesses de elites) vai perdendo a força, tornando-se apenas mais uma no meio das milhões de vozes. O Jornal Nacional já não é mais visto como antigamente. Os jornais das grandes e pequenas cidades também perdem importância e muitos até deixam de existir. A informação agora vem de múltiplas fontes, permeada de múltiplas visões, de múltiplas posturas diante do mundo. Os jornalistas vão se tornando uma classe de antigamente. Não precisamos mais de um grupo de pessoas que nos forneça informação mastigada e acrescida de ideologias. Agora nós mesmos produzimos informação e a colocamos à disposição de quem a queira.
Outro aspecto da atual revolução é criado pelo compartilhamento. Além de informações, passamos a compartilhar de bens culturais através da internet: música, filmes, livros, imagens. Tudo é colocado à disposição gratuitamente. Sem dúvida, a revolução do compartilhamento é grandiosa e vai diretamente contra os princípios do capitalismo. Antes, quem quisesse ouvir um disco tinha que pagar por ele. Hoje é possível obter qualquer música que se queira na rede. Usurpação? Não, compartilhamento. Se a música está na rede, é porque alguém a tinha e quis disponibilizá-la a outros. A velha indústria da cultura, que sempre a manteve restrita a uma pequena fatia da população, esbraveja e tenta criminalizar o compartilhamento em nome dos "direitos autorais", em sua "luta anti-pirataria".
Mas a revolução da informação e do compartilhamento não poderá ser detida. A velha imprensa, a velha indústria cultural e tudo o que elas representam estão com os dias contados.


A propósito
AQUI tem um artigo muito bom sobre as campanhas "anti-pirataria" e o que há por detrás delas.

A distância entre as cidades

Quando eu era [mais] jovem, gostava de chocar as professorinhas do Ensino Médio lá de Tapera(então 2º Grau) com afirmações contundentes e posturas para elas inaceitáveis. Era divertido ver o quanto elas eram presas a noções de "correto", a "comportamentos-padrão" e a uma moral "positiva e religiosa", e o quanto meu tom blasé e de pouco caso para com suas tradições podia deixá-las perplexas.

O tempo passou, morei em outros locais, convivi com outras pessoas, vi todo tipo de coisa, mas esse prazer secreto me acompanhou, quase como um fetiche. É extremamente prazeroso ver indivíduos que se agarram a "tradições" e a "bons costumes" ficando estarrecidos diante de algo que questiona o lugar seguro em que se instalaram. É terrivelmente excitante essa postura corrosiva para com a velha sociedade, que faz alguns se debatarem em um palavreado que serve apenas para mostrar uma vez mais o quanto são grotrescas suas convicções. Esse é um dos motivos que me fazem amar Madonna. Ela também tem esse fetiche, essa postura "fuck you" diante do mundo. Afinal, o que ela está fazendo quando se manda cruscificar em cima do palco ou quando oferece "Like a virgin" a Bento XVI, senão rindo da cara de quem fica chocado com isso?

Essa "rebeldia juvenil" parece-me a única postura aceitável diante de uma estrutura social apodrecida e que está a ponto de ruir. É necessário corroê-la em definitivo, implodi-la, para que desmorone de uma vez e exponha a todos o lamaçal sobre o qual foi construída. Não interessa a intenção que tinham os que a construíram, nem o que vai ser construído depois. Não interessa se um mundo mais perfeito surgirá. Uma coisa é certa: qualquer coisa que venha será melhor do que isso que foi construído até aqui pelas boas intenções de nossos ilustres antepassados, que não possuíam consciência ecológica (pois não lhes interessava), mas a quem não faltava a perspicácia para buscar o lucro fácil e instantâneo (que muito lhes interessava).

Se você sonha com nuvens

as palavras escorrem como líquidos
lubrificando passagens ressentidas
[1]

Os dois versos acima constituem um poema independente publicado no livro Inéditos e dispersos, de Ana Cristina Cesar. Neles, o signo verbal aparece com a capacidade de colocar em movimento, por seu poder de lubrificação, “passagens ressentidas”, expressão de certa ambigüidade: ressentidas significa que essas passagens são marcadas pelo ressentimento ou que elas são sentidas novamente? De qualquer forma, há o reconhecimento de uma certa propriedade pertencente à palavra, a de aliar-se a outros signos adquirindo, assim, novos significados, que é colocada em prática em “Se você sonha com nuvens” (bordado sobre voile, 1991), de Leonilson. Essa mostra-se como uma obra de grande simplicidade, mas dotada de uma profunda significação, graças ao modo como é construída, aliando a linguagem visual à linguagem verbal, o que possibilita a construção de novos significados a partir de signos já existentes.
O primeiro apelo da obra é certamente visual: o que vemos é uma cruz, símbolo universalmente conhecido, ainda que ligado a significações plurais. Essa cruz não é de madeira, nem de metal como estamos habituados a ver. É uma cruz de tecido branco: um pedaço de voile com bainhas forma a parte vertical da cruz, sobre o qual um outro pedaço menor e também com bainhas é costurado, formando a parte horizontal. Sobre o pano, foram bordadas duas frases em preto. Na parte vertical da cruz lemos: “Se você sonha com nuvens” (que corresponde ao título da obra). E na parte horizontal, escrito de baixo para cima: “A distância entre as cidades”. Finalmente, a última coisa a ser vista é a existência de quatro furos nas extremidades superiores da cruz, a permitir que ela seja pendurada numa parede.
A cruz, além de tantas outras significações a ela associadas, é o símbolo mais difundido do cristianismo, sendo sua origem o instrumento de tortura e morte empregado pelos romanos e com o qual Cristo foi morto, segundo os Evangelhos. A cruz simboliza, então, ao mesmo tempo, o sofrimento e a redenção alcançada por meio dele. Embora o signo da cruz remeta imediatamente à religião cristã, ele possui significados bem mais antigos e mais amplos que podem ser evocados para a leitura dessa obra:

O significado arquetipal do símbolo da cruz é sempre o da conjunção dos opostos: o eixo vertical (masculino) com o eixo horizontal (feminino); o homem com a mulher; o superior com o inferior; o tempo com espaço; o ativo com o passivo, o Sol com a Lua, a vida com a morte.[2]

Além disso, o signo da cruz vincula-se modernamente a outros significados, como a morte (devido a seu uso fúnebre) e o socorro médico-hospitalar, além de constituir o símbolo da adição na matemática. Portanto, a apropriarção do signo da cruz carrega a obra de uma gama de possíveis significações. Mas a presença de outros elementos constituintes da obra vai operar também uma ressignificação desse signo.
O fato de essa cruz ser confeccionada com tecido, e um tecido leve e delicado como o voile, dissolve, de certa forma, o caráter religioso da cruz, fazendo-a perder sua imponência e majestade de insígnia cristã, tornando-a frágil e suscetível a ser rasgada e suja. O pano branco que é a matéria-prima dessa cruz pode, também, ressaltar seu aspecto “hospitalar”, tanto por sua alvura quanto por remeter à gaze com que se limpam as feridas e se fazem curativos. Além disso, a sua brancura torna-a como que esvaziada, apagada de sentido e passível de ser preenchida com a escrita, com as idéias e a interpretação de alguém, como o faz o próprio autor ao inserir nela suas frases. Ao fazê-lo, ele aponta não para uma harmonização e integração dos opostos, da qual a cruz seria símbolo, mas justamente para a tensão entre eles.
Assim, as duas frases inseridas na cruz seriam pontos de vista e estados mentais opostos e inconciliáveis. De um lado, o sonho com nuvens, o universo da fantasia, do devaneio, do otimismo onde tudo é possível e não existem barreiras ou privações. Do outro, o mundo concreto e repleto de contradições, feito pelas mãos humanas e representado pela cidades, distanciadas entre si por um espaço que jamais é preenchido. Pode-se até buscar refúgio em um estado de eterno sonho, mas não esperar que do sonho resulte a solução dos conflitos existentes, pois “se você sonha com nuvens”, “a distância entre as cidades” permanece.
Pode-se afirmar, então, que o signo da cruz resta completamente desconstruído: primeiro, perde sua força e seu caráter redentor, depois, mostra-se incapaz de conciliar opostos, restando-lhe apenas utilidade como curativo para feridas advindas, justamente, da não-redenção e da não-conciliação. Ao inserir na cruz apenas duas frases, deixando nela ainda muito espaço em branco, o autor convida que cada um imprima nela sua própria leitura, sua própria ressignificação. Ao utilizar-se do bordado para escrever, atribui sentido ao símbolo não de forma bruta e impositiva, como o fazem os líderes (homens), mas com a delicadeza, silêncio e suavidade das bordadeiras. Finalmente, os furos que tornam a obra apta a ser pendurada na parede permitem que ela seja ali ostentada como os crucifixos de madeira, prata ou ouro que adornam ou templos ou outras repartições, religiosas ou não. Assim, o artista oferece a esses lugares uma cruz despida de alguns de seus traços tradicionais, como a rigidez do material, e revestida de novas significações. Uma cruz leve, “dócil” e maleável, que aceita inclusive ser vista simplesmente como uma... cruz.

[1] CESAR, 1998, p.87
[2] PELLEGRINI, Luís. Cruz: símbolo da união dos opostos. Planeta - Símbolos Esotéricos. São Paulo: Ed. Três. n. 129A. Jun. 1983. p. 10-13

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Uma história de devastação

Ontem andei lendo umas partes do livro Tapera - A caminhada de um povo, organizado e lançado em 1996 pela Secretaria Municipal de Educação de Tapera - RS, minha cidade natal (livro esse que eu já havia lido por inteiro anteriormente.) Algumas partes são extremamente entristecedoras e até revoltantes. Principalmente o que diz respeito à destruição da Floresta de Araucária que cobria a região.

O livro conta que na década de 1930 se instalaram as primeiras madeireiras na região. E em 1950 não havia mais mata para ser derrubada! Uma floresta que era "exuberante" e rica, como o próprio livro diz, e que havia levado séculos e séculos para se formar. E em 20 anos foi arrasada! Não contentes, os exploradores da madeira se transferiram depois para outras regiões, a fim de continuar a extração de madeira. Como verdadeiros sanguessugas... Dá vontade de chorar quando vejo algumas fotos incluídas no livro, que mostram a floresta sendo derrubada e imensas toras de araucária no chão. Que beleza devia ser aquela mata! E nada -nada - nada daquilo sobrou!!!

Na década de 1970, o que ainda havia restado da floresta foi derrubado, com o incentivo do governo militar, agora para disponibilizar mais terras para a monocultura da soja, que acabou com os outros tipos de produção, acabou com os empregos no campo, provocou o êxodo rural, empobreceu o solo, contaminou rios e pessoas com agrotóxicos...

Não há muito de que se orgulhar nessa história de colonização, que merece ser chamada de história de devastação. Nossos antepassados alemães e italianos levaram a cabo uma sucessão de imensos crimes (eu ia usar a palavra "bobagens", mas a palavra é "crimes" mesmo), movidos sempre pela ganância e pelos interesses dos donos do capital. Não era necessário destruir a floresta, embora o livro ingenuamente (ingenuamente?) diga que sim. A produção de subsistência podia ser feita em pequenas áreas, preservando-se grandes partes da mata. A ganância trouxe o desejo de enriquecimento, através da madeira e, depois, das monoculturas. São exatamente esses sanguessugas que hoje dão nomes a ruas, praças, vilas e localidades dentro do município. Mas eles não merecem a glória, não merecem ser chamados de desbravadores, não merecem nada. Foram apenas devastadores. E servem apenas como exemplo do que não deve ser feito... (Sim, são os descendentes desses devastadores que ainda hoje formam a elite pequeno-burguesa da cidade e continuam a devastação...)




E a Amazônia, terá o mesmo destino??... Será sugada até exaurir-se? É triste, mas tudo indica que sim...


A capa do livro, com ilustração de Maria Helena Bervian intitulada Observando a paisagem de Tapera, é perfeita: mostra o vazio quase desértico causado pelas plantações, com as raríssimas árvores que sobraram aqui e ali.

Paradoxos

Agora a devastação no Sul serve para plantar... árvores! É a hora e a vez dos eucaliptos e pínus destinados à indústria moveleira e papeleira(espécies de árvores que, segundo afirmam alguns, deterioram rapidamente o solo, provocando a desertificação)! Paradoxalmente, ESTA NOTÍCIA foi publicada justamente no site de uma associação que promove esse tipo de plantação.

O governo e os empresários locais saúdam a nova frente econômica, como acontece no Rio Grande do Sul, mas os efeitos dos “desertos verdes” de eucaliptos já são sentidos por agricultores na região de Mercedes, no departamento de Durazno.

Será que os atuais sanguessugas de Tapera já descobriram a nova onda?

Madonna e Britney juntas de novo?

Sim, este merece visto:


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Meme - 8 desejos

A Hazel, autora do Blog Casa Claridade, um de meus preferidos na blogosfera, convidou-me a participar de um meme. Para quem não sabe, um "meme" é uma brincadeira (uma proposta de post ou desafio) entre blogs. Esse meme consiste em escrever um post informando 8 coisas que o autor deseja fazer antes de "partir" (o que entendo como eufemismo para "morrer") e depois convidar outros 8 blogs a fazer o mesmo.

Eis as regras de modo mais formal:
►Escrever uma lista de 8 coisas que sonho fazer antes de ir embora daqui;
►Convidar 8 blogs amigos para responder também;
►Comentar no blog de quem nos convidou;
►Informar os convidados que foram "convocados";
►Exibir as regras.


Minha resposta
(sem ordem de preferência):
1. [Conteúdo inapropriado para menores]
2. Fazer uma longa viagem pela Índia.
3. Fazer uma longa viagem pela Europa.
4. [Conteúdo inapropriado para menores]
5. Conhecer Macchu Picchu.
6. Aprender mais umas 5 línguas.
7. Bater um papo com a Madonna.
8. [Conteúdo inapropriado para menores]


Blogs para quem vou repassar o meme:

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Da Finlândia II


26.10.2008 Turku, Finland
Hello Diom!
É meia-noite aqui, mas eu não consigo dormir porque faz a maior tempestade de Outono lá fora. Normalmente, eu iria para algum lugar onde pudesse ver o mar e as ondas, mas agora minha única preocupação é se a minha moto ainda estará de pé quando eu acordar. Em breve, o campeonato de Fórmula 1 será decidido. Você vai assistir? Você acha que Felipe Massa pode vencer? Espero que ele vença.


By Simo (com tradução minha e participação do tradutor automático do google)


Faróis sempre têm algo de místico.
Um farol num lugar lindo como esse, num postal vindo da Finlândia e com um texto que é um recorte autobiográfico então... é um deleite para alguém como eu (e pouco ou nada importa se meu interesse por Formula 1 é nulo...).

terça-feira, 4 de novembro de 2008