sábado, 31 de maio de 2008

Encore

Antes que o mês termine, ainda há tempo para uma última postagem.

Antes que o ano termine, ainda há tempo para uma reviravolta.

Antes que a década termine, ainda há tempo para criar motivos de ter saudades desse tempo daqui a dez anos.

Antes que a vida termine, ainda há tempo de fazê-la ter valido à pena.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ouvindo... The Cranberries


Eu não sabia quase nada sobre essa banda, e mesmo assim há tempos que gosto muito do álbum do "The Cranberries" que se chama "Everybody Else Is Doing It, So Why Can't We?", de 1993 (acho). Quando eles ficaram famosos, duas músicas desse disco tocaram muito nas rádios por aqui: "Dreams" e "Linger". Meu irmão mais velho tinha o CD, e, como eu gostava dessas duas canções, copiei o CD em uma fita cassete, e ouvi bastante lá por 1995, 96... Nesse meu atual surto de saudosismo noventista, lembrei desse disco e fui atrás dele no rapidshare.

Como eu disse, nada sabia sobre a banda. Na verdade, nem lembrava de tê-los visto alguma vez em foto ou na TV. No entanto, as músicas desse disco me tocavam profundamente. A começar pela voz da cantora, ao mesmo tempo forte e suave, delicada mas imponente, sim, uma voz paradoxal. Também as canções têm algo de paradoxal: grandiloqüentes mas simples, diferentes mas sem virtuosismos. No fundo, no fundo, era o tom melancólico das melodias e da vocalista, somado aos arranjos empolgantes da guitarra e da bateria, que me encantavam.

O curioso é que, mais de dez anos depois, aquelas músicas ainda me cativam, ainda me prendem e dão-me prazer ao ouvi-las. Hoje fiz uma pesquisinha sobre "The Cranberries" e descobri que são irlandeses, têm poucos álbuns gravados e não estão mais em atividade como banda. O que é bom dura pouco?



P.S. Esse post tem alguma relação com o anterior, sobre a série "My so-called life": no primeiro episódio da série há uma cena cuja trilha sonora é "Dreams", do "The Cranberries". Uma coisa leva à outra...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Minha vida de cão (My so-called life)

(O "Brasil" junto ao logotipo foi colocado ali pela pessoa que disponibilizou a foto)



Não, não, eu não vou me queixar da vida aqui. O título do post refere-se a um seriado norte-americano que marcou minha adolescência e do qual vou falar aqui. (É engraçado, tenho tido crises de memorialismo, que me fazem buscar coisas nos baús da memória a apegar-me a elas como se pudessem trazer de volta tempos passados. Às vezes eu quero de volta os anos 80, e os busco vendo vídeos da Mara Maravilha no youtube. Às vezes busco nos sebos revistas que li nos anos 90. Outras vezes são trilhas sonoras de fimes e seriados...)
Como esta que baixei hoje, a trilha sonora de "My so-called life". Conheci essa série através de meus irmãos mais velhos, que moravam em Porto Alegre e tinham TV a cabo. Porque a série foi exibida pela primeira vez no Brasil (com o nome de "Minha vida de cão") no canal Multishow. Meus irmãos tinham todos os episódios gravados em VHS e, certa vez em que fui os visitar, assisti a todos e encantei-me. Isso foi em 1995, quando eu tinha 14 anos. A idade das personagens centrais da série era esta: 15, 16 anos. Diferentemente de séries como "Barrados no Baile" e "Malhação", essa era uma série inteligente, realista e longe de clichês. As personagens eram de classe média e baixa, moravam no subúrbio e tinham seus problemas que iam além de musculação e "com que roupa vou na festa?"
Algum tempo depois o SBT exibiu a série também, primeiramente com o título "Meus 15 Anos" e, depois, "Minha vida de cachorro". Foi então que gravei os episódios em VHS, a maioria dos quais conservo até hoje. A série teve apenas 19 episódios e a personagem principal, Angela, foi interpretada pela atriz Claire Danes, que, mais tarde, fez o papel de Julieta no filme Romeo+Juliet.
Acho que me identifiquei muito com aquela série porque ela tinha um tom melancólico, blasé e quase pessimista, características que eu também tinha naquela época. Não era muito "colorida" e não mostrava a vida dos jovens como uma grande curtição. Além disso, a Angela era muito introspectiva e vivia fazendo reflexões muito interessantes sobre o mundo, o que rendia ótimas metáforas e monólogos interiores a cada episódio. Enfim, era algo bom demais para durar muito tempo na TV.


Abertura do seriado:





P.S. Caso alguém chegue aqui buscando um link para download da trilha sonora oficial do seriado, AQUI tem o tal link. E caso alguém se interesse, AQUI tem um link para um site bem legal feito por fãs sobre a série (em inglês)
P.P.S Links para o download da série completa podem ser encontrados na comunidade do Orkut "My so called life", localizada AQUI.

domingo, 25 de maio de 2008

A Morte


Certamente essa é a carta mais assustadora do tarô, justamente porque diante delas estamos como que diante de um espelho. Sim, a morte revela quem somos. Se temos medo dela, isso revela mais sobre nós mesmos do que imaginamos. Revela nossas crenças (as verdadeiras, e não as que apenas dizemos ter), nossa relação com o mundo e nosso modo de viver. O medo da Morte nos assalta porque sabemos que não aproveitamos a vida como deveríamos, que ainda há muito por fazer. O medo da Morte mostra nosso horror à mudança, à desestabilização de nosso universado calculado, medido e organizado. A Morte é um furacão que instaura o caos, do qual fugimos completamente.

Mas esse medo é infundado. Porque a Morte não apenas é algo positivo, mas necessário. Todos os sistemas de crenças pregam isso de alguma forma, e até os "sistemas de descrença" lidam assim com a Morte. A Morte nada mais é do que transformação, fim de ciclo, abandono do que é antigo. O que pode ser algo doloroso, posto que exige adaptação à nova situação (opa, então haverá uma nova situação e, portanto, a Morte não é o fim!...) e desprendimento em relação ao que se tinha. Mas esse é um processo do qual não se pode escapar, e cujo resultado é, sempre, a evolução.

terça-feira, 20 de maio de 2008

As misteriosas influências da Lua - PARTE II

Continuação da matéria publicada na revista Planeta, número 132, de sentembro de 1983

Para ler a primeira parte, veja o post anterior, ou CLIQUE AQUI

Das crendices às constatações científicas: AS MISTERIOSAS INFLUÊNCIAS DA LUA
Por Elsie Dubugras

Vista pela astrologia, a Lua representa a persona, a personalidade que encobre o eu verdadeiro




CONCEBENDO PELO OLHAR

Em 1942, Cristóvão Colombo partiu da Espanha em sua histórica viagem para a América. Em 11 de outubro, mais ou menos às 10 horas da noite, ele divisou uma misteriosa luz no meio do mar. Pensou que alguém poderia estar enviando sinais, mas como a luz durou pouco mais de um minuto, nunca descobriu sua origem.
Inúmeras pessoas têm tentado explicar essa luminosidade, e algumas das quais chegaram à conclusão de que não passaria de ilusão de ótica, comum aos vigias que, em serviço de prontidão, no escuro e incertos da posição do navio, imaginam estar vendo luzes e brilhos repentinos ou ouvindo sinos e ondas se quebrando na praia.
Uma explicação moderna, mais aceitável, foi dada por um jovem biólogo marinho, o doutor L.R. Crawshay, do Laboratório de Plymouth da Associação Biológica da Grã-Bretanha. Ele estivera nas Bahamas observando os vagalumes na época de procriação, quando grandes bandos de fêmeas atraem os machos com sua luminescência. Quando o acasalamento ocorre, o macho e a fêmea estouram, deixando cair no mar os ovos fertilizados. O incidente luminoso, que atrai milhares de turistas às praias, não duram mais do que alguns instantes e ocorre um pouco antes da terceira fase lunar.
Crawshay, que conhecia a história da misteriosa luz avistada por Colombo, teve a feliz idéia de consultar um antigo almanaque para descobrir em que fase aencontrava-se a Lua no dia 11 de outubro de 1492 e verificou que ela ainda estava na terceira fase. Julgando a descoberta significativa, pois explica a misteriosa luminosidade, escreveu um texto a respeito, publicado pela revista Nature.
Mas não é apenas o ciclo reprodutivo dos vaga-lumes que recebe os influxos da Lua. Como se sabe, constitui crença bem antiga aquela que estabelece um elo especial entre as mulheres e a Lua, e considera que esta exerce influência direta sobre a fertilidade, a gravidez e o nascimento.
Na antiga Babilônia acreditava-se que a Lua era responsável pela fecundação das mulheres que se dedicavam ao seu culto, cujas crianças denominavam-se, por isso, os filhos da Lua. E no antigo Egito acreditava-se que as mulheres concebiam olhando-a.
A crença universal fundamenta-se no ciclo menstrual feminino, tão intrisecamente ligado à Lua que o termo catamênia, usado para designar o fluxo, provém de duas palavras gregas, kata e men, que significam “pela Lua”. Em francês, o ciclo menstrual é conhecido como coimo “le moment de la Lune”, e na Alemanha os camponeses chamam-no simplesmente de “lua”. Na longínqua Nova Zelândia, os maoris referem-se à mesntruação como “mata marama”, ou doença da Lua. Lá, como na velha Babilônia, acredita-se que a Lua é o verdadeiro pai das crianças. A primeira menstruação de uma jovem seria provocada pela sua união, durante o sono, com a Lua, crença aliás também encontrada entre os índios brasileiros da tribo uaupé.
Um famoso cientista compartilhou da opinião dos povos primitivos da Antugüidade: Charles Darwin. Segundo ele, as coincidências entre os ciclos reprodutivos da mulher e dos animais marinhos provam que as espécies evoluíram das criaturas primitivas do mar e que o ciclo feminino de 28 dias “é um vestígio do passado, quando a vida dependia das marés e, portanto, da Lua.”

OS SAUDÁVEIS BEBÊS DA LUA CHEIA

Um fato confirmado por enfermeiras e parteiras é que as maternidades ficam muito manifestadas na época de Lua cheia. Um obstetra de Roanoke, Virgínia (Estados Unidos), decidiu investigar a exatidão dessas informações, consideradas supersticiosas pelos médicos. Examinou, então, o registro dos nascimentos ocorridos numa maternidade moderna e verificou que 66,7% dos bebês haviam nascido durante, logo antes ou imediatamente depois da Lua cheia. A sua hipótese é de que a Lua poderia afetar o líquido amniótico da mesma forma como influencia as marés. Esses dados foram depois corroborados por um cientista, o doutor Walter Menaker, que analisou mais de 500.000 partos ocorridos em Nova York, de janeiro de 1948 a janeiro de 1957, verificando que a maioria deles havia se dado na Lua cheia. Em 1967, esse mesmo cientista repetiu a contagem de partos ocorridos de janeiro de 1961 a dezembro de 1963, confirmando as estatísticas obtidas anteriormente. Esses dados foram publicados no American Journal of Obstetrics and Gynecology. A crença popular recebia assim o aval da ciência.
Os dados que obteve em seus estudos também levaram o doutor Menaker a concluir que as mulheres concebem com mais facilidade na Lua cheia. Na Europa, os que se ocupam dessa área concluíram que as mulheres concebem mais facilmente na fase lunar em que nasceram. Outros vão mais além, dizendo que, segundo a fase em que foram concebidas, é possível predizer o sexo do bebê!
De acordo com a crença popular dos camponeses europeus, a Lua cheia produz os filhos mais sadios, menos sujeitos a doenças, e isso vale até para os animais. Mas, de todas as crendices, uma das mais estranhas é a de uma tribo da África Central, segundo a qual a alma está situada na placenta. Por isso, quando a rainha tem um filho, conserva-se a placenta até a Lua nova, ocasião em que é colocada ao relento para que, ao minguar, a força da Lua se transfira ao reizinho.
Passando do reino animal para o vegetal, veremos que, pelo menos conforme a opinião dos agricultores, as plantas são também influenciadas pelas fases lunares, e numerosas experiências têm sido feitas nesse setor.
Nos Estados Unidos, alguns agricultores obedecem aos antigos costumes europeus se só plantar batatas na fase que chamam de “Lua velha” e repolhos só na Lua nova. Outros descendentes de imigrantes europeus somente lançam as sementes de vagens na terra quando as pontas da Lua estão viradas para cima, acreditando que assim as plantas se agarram às varas com mais facilidade. Também não plantam batatas quando as pontas estão viradas para baixo, pois acreditam que as raízes se afundariam demais na terra se o fizessem. Preferem ainda plantar os cereais no quarto crescente, acreditando que germinam melhor nessa fase. Os índios brasileiros também só plantam e colhem em certas fases da Lua, a “mãe das plantas” entre eles.
Na Europa, a doutora Lily Kolisko, cooperando com o Instituto Biológico de Stuttgart (Alemanha), fez repetidas experiências na plantação de frutas e verduras, concluindo que o milho produz espigas maiores se plantado dois dias antes da Lua cheia, o mesmo ocorrendo com as sementes de alface, repolho liso e crespo. Mostraram um redimento superior ao das sementes plantadas dois dias antes da Lua nova. Todas essas experiências demonstram que os primitivos não se guiavam tanto pela superstição como se imaginava.

LUNÂMBULOS E LUNÁTICOS

Há muito tempo o povoa credita que a Lua exerce uma marcante influência sobre as chuvas. Entretanto, assim como outros cientistas, os “homens do tempo” não concordavam com essa idéia e só se convenceram dela depois que um grupo estudou o registro de 1.544 estações meteorológicas americanas, desde o ano de 1909, verificando como chovera mais nos dias próximos da Lua nova e cheia. Por coincidência, alguns meteorologistas australianos fizeram um estudo idêntico, relacionado ao hemisfério sul, chegando também à conclusão de que chovia mais naqueles períodos. Quando os cientistas do norte e do sul descobriram que haviam obtido a mesma conclusão, concordaram em publicar conjuntamente suas pesquisas na renomada revista Science. O diretor de um observatório na Inglaterra, cujas pesquisas chegaram a resultados semelhantes, foi um pouco mais além ao dizer que elos inexplicáveis parecem ligar as fases lunares não só às chuvas, aos impactos de meteoritos e às tempestades magnéticas, mas também aos distúrbios mentais!
No livro “Moon Madness” (“Loucura Lunar”), E.L. Abel explica que a palavra “lunambulismo” existe desde 1838, quando era voz corrente que algumas pessoas, induzidas pela Lua cheia, saíam de suas camas e caminhavam sobre os telhados. Depois de narrar o caso de determinado paciente, ele diz que há mais verdades do que se supõe nas crendices do povo, que falam da influência magnética da Lua sobre os que dormem, especialmente agora que estão surgindo novos conhecimentos a respeito de raios, de cuja existência ninguém suspeitava antes. Nesse sentido, cumpre citar as experiências que estão sendo feitas pelo doutor L. W. Max para registrar, através de um eletro miógrafo, a reação dos músculos de pessoas que dormem aos raios e ao luar.
Em seu livro “The Lunar Effect” (“As influências da Lua”), o doutor Arnold L. Lieber – psiquiatra com clínica em Miami, que também exerce funções na Escola de Medicina da Universidade de Miami, Flórida – diz que dois aspectos interessaram-no profundamente: a área que abrange os crimes e a da psiquiatria. Os resultados de suas pesquisas são apresentados não só através da narração de fatos mas também, o que é de grande importância para um estudo sério, por meio de estatísticas e gráficos.
Depois de colher todos os dados, Lieber elaborou gráficos que, por si só, provam o que alguns cientistas de outras partes do mundo já aceitam: a violência cresce durante a Lua nova e chega no seu apogeu na Lua cheia. Dois dos gráficos feitos por Lieber são aqui reproduzidos. O gráfico 1 foi elaborado a partir de dados obtidos no Condado de Dade, na Flórida, e cobre o período de 1956 a 1970, com 1.887 ocorrências. O gráfico 2 refere-se ao Condado de Cuyahoga (Ohio), com 2.008 ocorrências entre 1958 e 1970.


Gráfico 1 e Gráfico 2

A AGRESSIVIDADE HUMANA E O CICLO LUNAR

Há um particular que merece ser observado. O pesquisador usou, na medida do possível, o momento exato em que o crime fora cometido e não a hora em que a vítima morrera, pois o desenlace pode ocorrer logo ou algum tempo após a agressão. Lieber verificou, então, que as agressões violentas eram cometidas dentro de certa periodicidade lunar.
Isso também foi comprovado pelo doutor Edward J. Malmostrom, do Instituto Wright, de Berkeley (EUA), que encontrou estatisticamente uma significativa periodicidade entre os homicídios e suicídios ocorridos no Condado de Alameda, Califórnia, e no de Denver, Colorado, durante os anos de 1956 a 1970. Ele baseou-se igualmente no momento da agressão e não no da morte.
Em cinco estudos feitos em outros pontos dos Estados Unidos, constatou-se, também estatisticamente, um pronunciado aumento de estupros, assaltos, roubos de carros, invasões de domicílios, agressões e tumultos durante a fase da Lua cheia. O nbúmero de admissões em hospitais psiquiátricos também era maior na Lua cheia, havendo ainda comprovação da existência de periodicidade lunar nos casos de agressões auto-infligidas em meio a uma população de pacientes psiquiátricos femininos não hospitalizados. Qual a conclusão dos pesquisadores?
“Existe uma relação entre a agressividade humana e o ciclo sinódico lunar. A agressão pode ser encarada no sentido freudiano, como uma pressão psicológica fundamental, ou pode ser vista como uma função biológica inata, existente em todos os animais, inclusive no homem. Num caso como no outro, pode-se esperar que apresente um padrão periódico, conhecido como ritmo biológico. A evidência indica que existe um ritmo biológico de aproximadamente um mês que se harmoniza com o ciclo lunar” (“The Lunar Effect”).
Que a deusa branca gosta de ser admirada é um fato conhecido. Quando o poeta inglês Robert Graves teve seu livro sobre a Lua rejeitado, o editor que o havia recusado morreu de colapso cardíaco. O segundo, que não só o rejeitou mas ainda escreveu uma carta pouco elogiosa a seu respeito, teve um triste fim: vestiu-se com roupas íntimas femininas e enforcou-se em uma árvore do seu jardim. O editor que o aceitou, porém, não apenas ganhou dinheiro como também a Ordem do Mérito.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

As misteriosas influências da Lua - PARTE I

Em homenagem à Lua Cheia de maio, que chega hoje às 23h13min, publico esta matéria da Planeta sobre as influências da Lua. Como é longa, vou dividi-la em duas partes.




Matéria publicada na revista Planeta, número 132, de setembro de 1983



Das crendices às constatações científicas: AS MISTERIOSAS INFLUÊNCIAS DA LUA

A Lua, seus ritmos e a influência que exerce sobre tudo o que existe na Terra são mistérios que sempre intrigaram os homens, que não podiam deixar de perceber a melhor germinação das sementes, a maior ocorrência de partos e a inexplicável indocilidade dos animais durante certas fases lunares. A conseqüência natural foi, em princípio, considerá-la uma entidade de origem divina, merecedora de cultos com rituais adequados. Hoje, a ciência retoma as antigas crenças populares que envolvem a deusa de prata, convertendo o que se supunha mera superstição em fatos comprováveis.



Por Elsie Dubugras

A mais antiga prova da existência do culto à Lua, datada de 12.000 anos, encontra-se numa caverna pré-histórica da França, onde existe o desenho de um homem com um par de chifres na cabeça. Hoje sabemos que o par de chifres é o símbolo universal usado para representa-la, possivelmente porque sua forma lembra a das duas pontas da Lua nova. Figuras semelhantes podem ser achadas em pinturas rupestres na Ásia, Egito, Grécia, Inglaterra, África e até nas Américas.
Não devemos esquecer que também a religião hebraica está intimamente associada a esse culto, tanto que um de seus mais importantes festivais – a Páscoa – é celebrado na Lua cheia. Calculado sobre o mês lunar, o ano judaico, com a colocação de mais um mês referente ao ano bissexto, coincide com o nosso, que é solar, a cada 19 anos. Para celebrar o evento, os hebreus, considerados o “povo de Deus”, proibiam o trabalho na Lua nova.
Também os babilônios cultuavam a deusa lunar, a quer deram o nome de Ishtar. Acreditando que ela, como mulher, menstruava em certas épocas, reservaram para esse ciclo a fase em que aparece cheia, durante a qual era proibido trabalhar. Esse era um período considerado calamitoso, e denominaram-no sabattu. Daí se origina o sábado das bruxas e, por fim, o sábado, sétimo dia da semana, dedicado ao descanso do homem e ao culto de Deus.
Com o passar dos séculos as verdadeiras origens de muitos cultos e costumes se perderam, e o que permaneceu acabou sendo enquadrado na categoria de folclore, crendice popular ou superstição infundada. Mas essa classificação arbitrária deixa de ter validade quando os antropólogos começam a se interessar pelo assunto e a pesquisar a procedência de certos hábitos. Isso sem citar as descobertas espetaculares dos arqueólogos e os estudos que estão sendo feitos agora pelos astrônomos, cientistas, médicos, psiquiatras e até pela própria polícia, sem virtude da influência da Lua sobre o comportamento humano.

A MEDICINA CONFIRMANDO AS CRENDICES

Como o desequilíbrio físico e mental sempre acompanhou o homem, é natural que a deusa Lua tenha ocupado um lugar de destaque no tratamento de seus males.
Os curandeiros, que empregavam ervas e raízes para a confecção de garrafadas, só as colhiam em determinadas fases. Mas tanto eles como os médicos não tratavam os doentes apenas com produtos naturais. Praticavam também a sangria, obedecendo ao seguinte esquema: as pessoas “sangüíneas” eram sangradas no primeiro quadrante da Lua, as “coléricas” no segundo, as “fleumáticas” no terceiro e as “melancólicas” no quarto.
Afora os médicos e curandeiros, também os barbeiros começaram, a partir de certa época, a fazer sangrias. Para provar que eram bem-sucedidos, dependuravam na porta da barbearia panos brancos manchados de sangue rubro. Quando mais tarde foram proibidos de faze-las, substituíram os panos por postes pintados de branco e vermelho. Ainda hoje na Inglaterra, o país das tradições, conhecem-se as barbearias pelos postes coloridos colocados em suas portas.
As sangrias estavam intimamente ligadas aos quatro líquidos orgânicos básicos que, segundo os cientistas do século XVIII, faziam parte integrante do corpo humano. Conhecidos como humores, tais líquidos eram classificados como sangue, fleuma, bílis amarelo e bílis negro, cada um dos quais subdivido em quente, frio, seco e úmido. Acreditava-se assim que, do mesmo que exercia influência sobre as marés, a Lua também afetava os movimentos dos humores, tanto que, quando havia um desequilíbrio, dizia-se que a pessoa estava de mau humor e prescrevia-se a sangria. É curioso notar que diversas expressões que ainda hoje estão em uso, como sangue frio ou quente, coração ardente, etc, têm sua origem nos humores dessa época.
Mas os curandeiros do passado não foram os únicos a respeitar as fases lunares. Alguns cirurgiões modernos, constatando que durante as operações que praticavam na Lua cheia os pacientes sangravam mais que em outros períodos, começaram a estudar a velha crença de que ela exerce influência sobre o sangue. Um médico, depois de estudar mais de mil casos, verificou que em 82% deles as hemorragias eram maiores quando a cirurgia fora feita entre o quarto crescente e o minguante, ocorrendo a perda máxima de sangue na Lua cheia.
Qual seria o mecanismo responsável pela maior ou menos perda de sangue? Segundo a teoria de Arnold L. Lieber, este mecanismo relaciona-se às marés biológicas. Diz ele que os vasos e as células sangüíneas têm membranas semipermeáveis, e a água do corpo passa livremente por entre os compartimentos fluidos. Numa situação de maré biológica alta, a dilatação e a tensão dos tecidos fazem com que seja necessário estabelecer um novo equilíbrio entre esses compartimentos. É provável, então, que a água, submetida a uma pressão maior, seja reabsorvida pelo sistema circulatório, o que resulta num maior volume de sangue e, portanto, em maior pressão sangüínea. Os pacientes submetidos a intervenções cirúrgicas durante essa fase teriam, pois, uma maior tendência à hemorragia.

OSTRAS, MOSQUITOS E RATOS

Algumas interessantes experiências foram realizadas por naturalistas e biólogos estudiosos do comportamento dos animais que vivem nas praias e nas partes rasas do mar e que, evidentemente, sofrem a influência das marés. Para descobrir até onde essa influência afetava os caranguejos, as ostras e os caracóis, esses cientistas deslocaram-nos de seu habitat natural para aquários e viveiros adequados a uma grande distância, bem no interior dos Estados Unidos. Aí puderam observam que, mesmo em paragens distantes, esses animais continuavam se comportando como se não tivessem saído da praia, o que os levou a deduzir que, durante sua evolução, haviam desenvolvido um sexto sentido. Este sentido indicaria quando as marés estavam altas ou baixas, quando deveriam emergir da areia para tomar sol ou mergulhar nela para não ser arrastados para águas mais profundas e mesmo quando deveriam se preparar para comer ou mudar de cor.
Depois de cerca de três meses, no entanto, as ostras começaram a mudar de comportamento: em vez de abrirem as conchas na ocasião apropriada, isto é, quando se dava a maré alta no seu torrão natal, atrasaram esse movimento em mais ou menos três horas. Os biólogos não podiam entender o que estava ocorrendo, pois as condições do laboratório permaneciam inalteradas. Um deles lembrou-se de olhar o calendário e verificou, surpreso, que as ostras abriam e fechavam as conchas de acordo com a posição da Lua na cidade onde se encontrava o laboratório. Em outras palavras, se lá no centro dos Estados Unidos houvesse mar, aquele seria o período da maré alta.
Quando os cientistas fizeram experiências semelhantes com caranguejos e camarões, observaram que estes comportavam-se de maneira idêntica, provando que a Lua exerce influência sobre a vida animal, mesmo que não seja visível. Essa observação é lógica, visto que de dentro do laboratório os animais ficavam resguardados de qualquer claridade, e mesmo assim a influência da Lua se fazia sentir presente lá...
Os entomologistas, por sua vez, fizeram experimentos com mosquitos, conseguindo capturar centenas deles quando a Lua estava no minguante, mas bem menos quando cheia. Conclui-se daí que deveríamos estudar as fases lunares, senão por outros motivos, pelo menos entes de planejar um piquenique.
Em experiências com pequenos roedores, o biólogo encarregado do controle percebeu que eles mostravam um sensível aumento de atividade durante duas fases da Lua: a cheia e a nova. Mas, além disso, anotou outro pormenor: os roedores chegavam ao máximo de sua atividade sempre no mesmo dia de detreminado ciclo lunar. Isto comprova que também os mamíferos estão sujeitos à influência cíclica.

"A influência da Lua sobre a cabeça das mulheres": gravura francesa do séc. XVII sobre folcóricos poderes lunares

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Epílogo


Vídeo de autoria de Maria Flor do Brasil, inspirado no "Epílogo" do livro "Luvas de Pelica", de Ana Cristina Cesar


* Através dessa curta cena, o eu-lírico construído por Ana Cristina Cesar permite ao leitor visualizar figuradamente em que consiste sua poética, de onde e por que ela nasce e, mesmo, como deve ser lida. Ao fazê-lo, ele revela a própria concepção de criação poética que orienta o eu-lírico: o poeta aparece aqui não como aquele que busca no seu âmago os sentimentos e experiências internas com os quais tece sua poética, mas como aquele cuja atividade é semelhante à do mágico, que leva os outros a experimentarem sensações que ele próprio sabe não passarem de ilusões criadas por seus truques e artimanhas. A teia de referências criada por Ana Cristina, através das diversas situações, lugares e vivências sugeridas pelas imagens e pelos escritos presentes nos cartões-postais surge então como uma tentativa do eu-lírico de multiplicar-se, de ser muitos, ou de ser capaz de envolver com sua própria subjetividade todas as possilbilidades de existência que ele vislumbra. Não se pede ao leitor que ele admita que os objetos de ficção são ‘como a vida’, mas sim que ele participe da criação de mundos, por meio da linguagem.[1] Assim, o procedimento da poeta consiste em traduzir imagens em palavras. A palavra remete à imagem, e a imagem abriga em si a significação plural e ambivalente dos mundos que ela deseja criar.


[1]
1. VIEGAS, Ana Cláudia. Bliss & Blue – Segredos de Ana C. São Paulo: Ed. Annablume, 1998


*Trecho de um ensaio de minha autoria, cujo título é "A arte como ilusionismo em Ana Cristina e Leonilson"

domingo, 11 de maio de 2008

O Louco


Ele é a Criança que existe no âmago de cada um e que se mostra mais ou menos ativa em nosso modo de viver. Sua influência sobre nosso comportamento abre-nos para a criatividade, jovialidade, liberdade e quebra das barreiras sociais. É um impulso para a expansão: expansão do olhar, da percepção, do prazer, da experiência. Quando nosso louco interior encontra-se completamente adormecido ou aprisionado, adotamos posturas rígidas, tornamo-nos escravos da rotina, dos padrões, do sistema.

Ao mesmo tempo, é preciso oferecer à energia impulsiva do Louco uma direção, pois ela é caótica, intempestiva e, até, perigosa. Quando domina o agir de alguém, o Louco pode provocar a auto-destruição, a dissipação, o vício.

A vocação do Louco é, então, interagir com os outros aspectos de nosso ser, oferecendo a eles sua características positivas e desejáveis e aprendendo com eles a controlar sua ânsia andarilha.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Das coisas que não sei

Não vi os meteoros, mas não perdi nada por ficar olhando para o céu na madrugada fria de anteontem. A noite estava lindíssima e foi um deleite ficar vendo as estrelas à espera de alguma estrela cadente.

Além disso, ao ler sobre o assunto fiquei sabendo de coisas bem interessantes. Eu achava que a queda de meteoros era algo completamente esporádico e imprevisível, quando, na verdade, as chuvas de meteoros obedecem a ciclos que se repetem a cada ano, conforme a órbita do planeta vai atravessando regiões do espaço com mais ou menos fragmentos de matéria. Assim, há um calendário que prevê direitinho em que região poderão ser vistos meteoros em cada época do ano, assim como a parte do céu em que poderão ser vistos e até quantos meteoros por hora podem ser esperados. Incrível, não é mesmo? Incrível, também, é o fato de que eu nem imaginava isso...

Um dos fatos que dificultaram que eu avistasse os tais meteoros foi minha ignorância quanto à localização das constelações e dos planetas no céu, já que eles são usados como referência para que se saiba em que lado do céu se deve prestar atenção. Mal sei localizar os pontos cardeais (dias atrás comprei um chaveiro-bússola que está me ajudando), quanto mais achar Netuno ou a constelação de Aquário...

Isso me faz pensar em quanta coisa há que eu gostaria de saber e não sei , quanta coisa a ser aprendida, habilidades a serem desenvolvidas e mundos a serem explorados. Quanta coisa a gente vai deixando pra depois - "um dia vou aprender italiano", "um dia vou ler sobre astronomia", "um dia vou fazer yoga" - e o depois vai sendo sempre depois... E o tempo vai se esvaindo em coisas que não são prazerosas, nem empolgantes nem, muitas vezes, dotadas de sentido. Assim é nosso mundo e assim é nossa vida.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Chuva de estrelas

A calda do cometa Halley está passando perto da Terra, e alguns fragmentos adentram nossa atmosfera transformando-se em meteoritos. Resultado: por esses dias pode-se observar uma chuva de "estrelas-cadentes" no céu noturno. Na madrugada de hoje para amanhã, por volta das 4h30min será possível ver os meteoros na direção do Leste. Como a chuva enfim cessou, tentarei vê-los, pois gosto e muito dos espetáculos da Natureza. Observar o Céu é um de meus passatempos preferidos, e é uma excelente forma de reflexão, diria até meditação.
Depois relato aqui se consegui ver o rabo do Halley.

AQUI tem um site sobre chuvas de meteoros.


E NESTE BLOG tem informações sobre os meteoros que poderão ser vistos logo mais.

P.S. Resolvi mudar de layout. O outro estava muito pesado e excessivamente barroco. Sei que muitos não gostam de ler com fundo preto, mas é o visual que mais tinha a ver com este blog...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sobre romãs


Quando eu era pequeno havia uma árvore de romã (romãzeira?) na frente da minha casa. Todos os anos ela dava muitas frutas que consumíamos, meus irmãos e eu, com entusiasmo infantil. Não que fosse a fruta mais saborosa do mundo, mas a romã tem sua delicadeza que encanta. O mais bonito é que dá para ver claramente suas flores, vermelhas e chamativas, transformando-se em frutos, cheios de sementes igualmente vermelhas. Na verdade, é uma fruta esquisitinha: não tem polpa, e o que a gente degusta é o caldinho que há no interior das sementes.
Essas reflexões "romanescas" (com o perdão do trocadilho) foram motivadas pela passagem de Samhain, que celebrei com um rito que utiliza, entre outros elementos, dessa fruta como símbolo. E a romã é tradicionalmente associada à fecundidade, à paixão e ao amor. Segundo a Wikipedia, os gregos associavam-na à deusa Afrodite e consideravam-na afrodisíaca. Até na Bíblia ela aparece como símbolo de fartura para os hebreus. Dizem que a romã é boa pra curar dor de garganta. E sabe-se que é antioxidante, ajuda a previnir e até a tratar câncer, principalmente de próstata.
Pra mim é engraçado que a romã seja vendida por um preço tão elevado (pelo menos aqui na minha região. Ontem comprei uma unidade por R$2,95!) Na minha casa era algo tão comum ("era", porque aquela romãzeira não existe mais), quase banal...
Para finalizar, deixo-vos a letra de uma canção de Baby Consuelo que, coincidentemente, conheci ontem ao baixar o álbum "Krishna Baby", de 1984. A canção chama-se "Romã do Amor" e nela a cantora filosofa sobre a fruta, tal como fiz nesse post que inaugura a postagem de maio:

A palavra amor
É tão infinita
Que até ao contrário
Também significa
Eu estou falando
Da R-O-M-Ã
Que cura o cantor
Num passe de amor
Nas quebradas da vida
Minha voz te exalta
Nessa vida ribalta
Tua semente
Transparente só traz sabor
Tua casca vermelha e branca
Protege quem canta
E toda a garganta nesse mundo-esperança
Romã do Amor
Sou sua fã
Seu admirador
E por trás de ti
Pressinto em mim
A missão natureza
De uma fruta princesa
Que Deus abençoou


P.S: Descobri que a romã já tem seu próprio perfil no orkut, quem quiser conhecê-lo, clique AQUI.