segunda-feira, 19 de maio de 2008

As misteriosas influências da Lua - PARTE I

Em homenagem à Lua Cheia de maio, que chega hoje às 23h13min, publico esta matéria da Planeta sobre as influências da Lua. Como é longa, vou dividi-la em duas partes.




Matéria publicada na revista Planeta, número 132, de setembro de 1983



Das crendices às constatações científicas: AS MISTERIOSAS INFLUÊNCIAS DA LUA

A Lua, seus ritmos e a influência que exerce sobre tudo o que existe na Terra são mistérios que sempre intrigaram os homens, que não podiam deixar de perceber a melhor germinação das sementes, a maior ocorrência de partos e a inexplicável indocilidade dos animais durante certas fases lunares. A conseqüência natural foi, em princípio, considerá-la uma entidade de origem divina, merecedora de cultos com rituais adequados. Hoje, a ciência retoma as antigas crenças populares que envolvem a deusa de prata, convertendo o que se supunha mera superstição em fatos comprováveis.



Por Elsie Dubugras

A mais antiga prova da existência do culto à Lua, datada de 12.000 anos, encontra-se numa caverna pré-histórica da França, onde existe o desenho de um homem com um par de chifres na cabeça. Hoje sabemos que o par de chifres é o símbolo universal usado para representa-la, possivelmente porque sua forma lembra a das duas pontas da Lua nova. Figuras semelhantes podem ser achadas em pinturas rupestres na Ásia, Egito, Grécia, Inglaterra, África e até nas Américas.
Não devemos esquecer que também a religião hebraica está intimamente associada a esse culto, tanto que um de seus mais importantes festivais – a Páscoa – é celebrado na Lua cheia. Calculado sobre o mês lunar, o ano judaico, com a colocação de mais um mês referente ao ano bissexto, coincide com o nosso, que é solar, a cada 19 anos. Para celebrar o evento, os hebreus, considerados o “povo de Deus”, proibiam o trabalho na Lua nova.
Também os babilônios cultuavam a deusa lunar, a quer deram o nome de Ishtar. Acreditando que ela, como mulher, menstruava em certas épocas, reservaram para esse ciclo a fase em que aparece cheia, durante a qual era proibido trabalhar. Esse era um período considerado calamitoso, e denominaram-no sabattu. Daí se origina o sábado das bruxas e, por fim, o sábado, sétimo dia da semana, dedicado ao descanso do homem e ao culto de Deus.
Com o passar dos séculos as verdadeiras origens de muitos cultos e costumes se perderam, e o que permaneceu acabou sendo enquadrado na categoria de folclore, crendice popular ou superstição infundada. Mas essa classificação arbitrária deixa de ter validade quando os antropólogos começam a se interessar pelo assunto e a pesquisar a procedência de certos hábitos. Isso sem citar as descobertas espetaculares dos arqueólogos e os estudos que estão sendo feitos agora pelos astrônomos, cientistas, médicos, psiquiatras e até pela própria polícia, sem virtude da influência da Lua sobre o comportamento humano.

A MEDICINA CONFIRMANDO AS CRENDICES

Como o desequilíbrio físico e mental sempre acompanhou o homem, é natural que a deusa Lua tenha ocupado um lugar de destaque no tratamento de seus males.
Os curandeiros, que empregavam ervas e raízes para a confecção de garrafadas, só as colhiam em determinadas fases. Mas tanto eles como os médicos não tratavam os doentes apenas com produtos naturais. Praticavam também a sangria, obedecendo ao seguinte esquema: as pessoas “sangüíneas” eram sangradas no primeiro quadrante da Lua, as “coléricas” no segundo, as “fleumáticas” no terceiro e as “melancólicas” no quarto.
Afora os médicos e curandeiros, também os barbeiros começaram, a partir de certa época, a fazer sangrias. Para provar que eram bem-sucedidos, dependuravam na porta da barbearia panos brancos manchados de sangue rubro. Quando mais tarde foram proibidos de faze-las, substituíram os panos por postes pintados de branco e vermelho. Ainda hoje na Inglaterra, o país das tradições, conhecem-se as barbearias pelos postes coloridos colocados em suas portas.
As sangrias estavam intimamente ligadas aos quatro líquidos orgânicos básicos que, segundo os cientistas do século XVIII, faziam parte integrante do corpo humano. Conhecidos como humores, tais líquidos eram classificados como sangue, fleuma, bílis amarelo e bílis negro, cada um dos quais subdivido em quente, frio, seco e úmido. Acreditava-se assim que, do mesmo que exercia influência sobre as marés, a Lua também afetava os movimentos dos humores, tanto que, quando havia um desequilíbrio, dizia-se que a pessoa estava de mau humor e prescrevia-se a sangria. É curioso notar que diversas expressões que ainda hoje estão em uso, como sangue frio ou quente, coração ardente, etc, têm sua origem nos humores dessa época.
Mas os curandeiros do passado não foram os únicos a respeitar as fases lunares. Alguns cirurgiões modernos, constatando que durante as operações que praticavam na Lua cheia os pacientes sangravam mais que em outros períodos, começaram a estudar a velha crença de que ela exerce influência sobre o sangue. Um médico, depois de estudar mais de mil casos, verificou que em 82% deles as hemorragias eram maiores quando a cirurgia fora feita entre o quarto crescente e o minguante, ocorrendo a perda máxima de sangue na Lua cheia.
Qual seria o mecanismo responsável pela maior ou menos perda de sangue? Segundo a teoria de Arnold L. Lieber, este mecanismo relaciona-se às marés biológicas. Diz ele que os vasos e as células sangüíneas têm membranas semipermeáveis, e a água do corpo passa livremente por entre os compartimentos fluidos. Numa situação de maré biológica alta, a dilatação e a tensão dos tecidos fazem com que seja necessário estabelecer um novo equilíbrio entre esses compartimentos. É provável, então, que a água, submetida a uma pressão maior, seja reabsorvida pelo sistema circulatório, o que resulta num maior volume de sangue e, portanto, em maior pressão sangüínea. Os pacientes submetidos a intervenções cirúrgicas durante essa fase teriam, pois, uma maior tendência à hemorragia.

OSTRAS, MOSQUITOS E RATOS

Algumas interessantes experiências foram realizadas por naturalistas e biólogos estudiosos do comportamento dos animais que vivem nas praias e nas partes rasas do mar e que, evidentemente, sofrem a influência das marés. Para descobrir até onde essa influência afetava os caranguejos, as ostras e os caracóis, esses cientistas deslocaram-nos de seu habitat natural para aquários e viveiros adequados a uma grande distância, bem no interior dos Estados Unidos. Aí puderam observam que, mesmo em paragens distantes, esses animais continuavam se comportando como se não tivessem saído da praia, o que os levou a deduzir que, durante sua evolução, haviam desenvolvido um sexto sentido. Este sentido indicaria quando as marés estavam altas ou baixas, quando deveriam emergir da areia para tomar sol ou mergulhar nela para não ser arrastados para águas mais profundas e mesmo quando deveriam se preparar para comer ou mudar de cor.
Depois de cerca de três meses, no entanto, as ostras começaram a mudar de comportamento: em vez de abrirem as conchas na ocasião apropriada, isto é, quando se dava a maré alta no seu torrão natal, atrasaram esse movimento em mais ou menos três horas. Os biólogos não podiam entender o que estava ocorrendo, pois as condições do laboratório permaneciam inalteradas. Um deles lembrou-se de olhar o calendário e verificou, surpreso, que as ostras abriam e fechavam as conchas de acordo com a posição da Lua na cidade onde se encontrava o laboratório. Em outras palavras, se lá no centro dos Estados Unidos houvesse mar, aquele seria o período da maré alta.
Quando os cientistas fizeram experiências semelhantes com caranguejos e camarões, observaram que estes comportavam-se de maneira idêntica, provando que a Lua exerce influência sobre a vida animal, mesmo que não seja visível. Essa observação é lógica, visto que de dentro do laboratório os animais ficavam resguardados de qualquer claridade, e mesmo assim a influência da Lua se fazia sentir presente lá...
Os entomologistas, por sua vez, fizeram experimentos com mosquitos, conseguindo capturar centenas deles quando a Lua estava no minguante, mas bem menos quando cheia. Conclui-se daí que deveríamos estudar as fases lunares, senão por outros motivos, pelo menos entes de planejar um piquenique.
Em experiências com pequenos roedores, o biólogo encarregado do controle percebeu que eles mostravam um sensível aumento de atividade durante duas fases da Lua: a cheia e a nova. Mas, além disso, anotou outro pormenor: os roedores chegavam ao máximo de sua atividade sempre no mesmo dia de detreminado ciclo lunar. Isto comprova que também os mamíferos estão sujeitos à influência cíclica.

"A influência da Lua sobre a cabeça das mulheres": gravura francesa do séc. XVII sobre folcóricos poderes lunares

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