quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tiram fotos, logo existem

Irrita-me um pouco essa obsessão que muitas pessoas adquiriram por tirar fotos de si próprias e expô-las de todas as formas possíveis, sobretudo na internet. Enchem álbuns e mais álbuns no orkut, criam fotologs ou até blogs apenas para publicar fotos.
Em muitos casos, isso revela um certo exibicionismo: "é preciso mostrar aos outros as coisas interessantes que fazemos, a vida divertida que levamos, as pessoas simpáticas com quem convivemos". Não basta fazer uma bela viagem a Buenos Aires. É necessário que todos saibam que lá estivemos. Não basta participar de uma festa pra lá de animada. É preciso mostrar a todos o quanto nos divertimos! Chega a ser cômica a inversão que isso acarreta às vezes: as pessoas não fotografam situações especiais, mas criam situações que possam fotografar. Isso fica tão evidente em certos casos que é impossível não rir das fotos que vejo em alguns álbuns de contatos meus no orkut.
Mas há também uma outra questão dentro desse "fotografismo": a irrealidade de grande parte dessas fotos internéticas. As pessoas forjam nas fotografias uma imagem de si próprias completamente fictícia. Buscam ângulos que as "beneficiem", camuflam-se com acessórios e fazem poses que as tornam simplesmente irreconhecíveis (Nem vou entrar na questão do photoshop, que já virou até clichê). Tudo para perseguir uma estética que aceitaram como padrão e à qual tentam adaptar-se, ainda que por meio das fotos. O mais hilário de tudo isso é que as pessoas, cada vez mais, acabam acreditando nessa farsa. A imagem verdadeira passa a ser a da foto. Não importa mais a verdadeira aparência da pessoa, e sim a que ela conseguiu para si através da fotografia.
Eu não tenho paciência para fotos. Muito menos para participar dessa esquizofrenia coletiva. Com minha câmera gosto mais de fotografar coisas que vejo por aí: um gato branco sentado na frente de uma casa, um pôr-do-sol incrivelmente laranja ou as flores que plantei no meu quintal. E a maioria das fotos que faço jamais mostrarei a ninguém. São minhas, para minha recordação e meu deleite.

3 comentários:

Anônimo disse...

deves ser pouco feio deves

magia disse...

Hi, olha o portuga me chamando feio!!! Pode uma coisa dessas?

Hazel Evangelista disse...

Sabes aquele meu post em que conto sobre as vestes de anjo que encontrei? Perguntaste porque não as tinha vestido e fotografado, lembras-te?
Pois é... fiquei a pensar nisso, e não conseguia explicar porque não o tinha feito. Agora, quando li este teu post, encontrei a minha resposta. Eu penso como tu, no que diz respeito às fotos. Concordo contigo, e os meus motivos são os que descreves aqui.

(antecipo-me já aí à provocação do teu leitor desaforado anónimo: também não sou feia!)

Beijos, Diom.