segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Jesus usaria Botox?

Quem assiste à TV Globo pela antena parabólica certamente já viu (e provavelmente se irritou com) as freqüentissíssimas propagandas da coleção de CDs do "maravilhoso, poético e encantador Padre Fábio de Melo". A Veja dessa semana traz uma matéria sobre ele e outros "artistas" religiosos (é só clicar AQUI para lê-la). Matéria que, sem querer, explica muita coisa: o tal padre é o novo grande produto da indústria fonográfica brasileira. Um "artista" cuidadosamente construído, planejado e embalado para presente. Exatamente como aquela outra cantora, a Claudia Leitte.
Dentro da matéria da revista há uma indagação de um "estudioso" - estudioso de quê? a revista não diz... - muitíssimo interessante:
Um padre com imagem sexualizada é algo espantoso. O que virá a seguir?
Mas para mim há algo ainda mais espantoso: é o tipo de "imagem sexualizada" que esse padre representa. Não se trata de uma sexualidade transgressora, de rebeldia contra normas hierárquicas ou quebra de tabus. Pelo contrário. É uma imagem que canoniza os símbolos da superficialidade contemporânea, da sedução que tem como recursos os artefatos só proporcionados pelo dinheiro, sejam as picadas de Botox, o relógio Diesel (eu nem sabia que tal marca existia, pra mim Diesel era só nome de combustível até ler a matéria), ou as roupas de grife. Em suma, uma sexualidade que se baseia no fetiche da ostentação, logo, lucrativa e em plena consonância com o sistema.
Diz a Veja que o reverendo é mestre em antropologia teológica. Fiquei curioso para ler algum de seus livros e descobrir que tipo de discurso ele utiliza para compatibilizar sua imagem com a imagem nada glamurosa apresentada pelo Jesus dos evangelhos, aquele profeta errante, maltrapilho, declaradamente pobre e de fala por vezes agressiva.
Fica a irresistível pergunta:
Se Jesus vivesse atualmente, ele usaria Botox?

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu já tinha pensado no que queria a indústria fonológica vendendo o tal padre bonitinho! É a imagem do cara romântico perdido (graças a Deus!) na modernidade! Fino, elegante, delicado... vão as perguntas: para quem querem vender o tal padre? Com que intuito vão os(as) consumidores(as) comprar o tal padre? TEu texto dá indícios de respostas muito relevantes...

Unknown disse...

vc foi bem mais profundo nessa análise do padre... realmente, a questão não é simplesmente ter uma 'imagem sexualizada'.

bem... só um comentário bobo: frente aos comentários elogiosos de minha mãe durante os comerciais do padre em questão, meu pai revida dizendo q ele tem 'cara de gambá'... eu concordo com ele!!! rsrs

Ester disse...

Bravo amigo!!

fazia tempo que não lia algo tão pertinente, e adianto-lhe que onde quer que Jesus esteja ele o está aplaudindo,
já havia pensado vagamente a respeito, não havia dado forma completa as minhas divagações dentro desse assunto, lendo seu texto, fez o clique que precisava..

abaixo o botox cultural e religioso!

Anônimo disse...

Olha, Diom, considerando o contexto da entrevista, me sinto bastante à vontade para ironizar: seria aconselhável ... muito magrinho ...
tsi, tsi, cada bobagem nas entrevistas da Veja (por favor, sem generalizações!)
Teresinha Brandão