segunda-feira, 6 de abril de 2009

Morte anfíbia

Hoje quando acordei senti um desconforto na garganta. Como se houvesse algo intalado lá dentro. E realmente havia. Quando abri a boca, lá de dentro saltou um sapo. Um sapo gordo, verde e gosmento. Um nojento e repulsivo sapo. Como ele foi parar lá dentro não sei. Só sei que quase vomitei, pois sempre tive asco e até medo desses animais feiosos. Ele saltou, caiu no chão e olhou ao redor. Olhou para mim, e olhei para ele. Foi então que notei que havia algo amarrado às costas do sapo. Um papel amarelado e dobrado. Intrigado, aproximei-me do sapo para tentar pegar o papel e descobrir do que se tratava. Seria uma carta, um bilhete, talvez um prêmio de loteria?
Mas foi em vão. Ao perceber minha aproximação, o sapo saltou para longe, assustado. Foi pulando em direção à janela e escapou. Corri para a janela. Não avistei mais o anfíbio. Ia já desistindo de saber o que haveria no papel, quando o enxergo no chão da calçada. Ao passar pela grade de proteção da jenela, o papel devia ter se enroscado e se desprendido do corpo do bicho. Corri lá para fora, peguei o papel e o desdobrei. Era uma folha de caderno grande. E nela estava desenhado a caneta um mapa. Um mapa de meu bairro! Reconheci os nomes das ruas e vi assinalado com uma cruz em vermelho o local correspondente à minha casa. Além disso, havia outro local assinalado com uma cruz e a palavra "paraíso". Eu não tinha certeza, mas parecia-me que esse outro lugar marcado correspondia a um grande terreno desocupado, onde há campo e alguns remanecentes de mato.
Depois de tomar apressadamente meu café da manhã, resolvi ir verificar se minha impressão era verdadeira. Tomei o mapa e segui a orientação pelos nomes das ruas ali indicadas. Foi fácil chegar ao local indicado como "paraíso". Era realmente onde eu pensava, não muito longe de minha casa.
Fui entrando naquele terreno com uma leve sensação de que algo de diferente aconteceria. Há uma estradinha que desemboca na rua e que leva ao campo. No fim da estradinha, há um pequeno riacho que é preciso atravessar para continuar o caminho. Algumas pedras servem de ponte para essa travessia. Quando pisei na segunda pedra, desequilibrei-me, caí e bati violentamente a cabeça em outa pedra. O choque foi tão grande que fiquei desacordado, com a cabeça submersa sob 30 centímetros de água daquele ridículo riacho. Morri afogado e quase sem dor. Morri sem saber os porquês daquele sapo em minha garganta, daquele mapa naquele sapo e daquele "paraíso" escrito no mapa.
Mas como, então - se perguntará o leitor que tiver chegado até esse ponto da narração - como então ele pode estar narrando essa história, se morreu antes que pudesse contá-la? Esse mistério é de fácil solução. Acontece que, antes de sair de casa, tive um pressentimento de que algo de fatal se passaria comigo nessa minha saída. Prevenido que sou e para que os motivos de estar nesse lugar na hora de minha morte fossem conhecidos de todos, escrevi de antemão minha bizarra sina que o leitor acaba de acompanhar.

Um comentário:

Hazel Evangelista disse...

Eh pá que texto louco!!
Vim desejar feliz Ostara (celebras segundo o Hemisfério Norte ou Sul?)

Beijos mágicos