quarta-feira, 1 de outubro de 2008

História de uma alma

Hoje, quando acordei, lembrei: 1º de outubro, dia de Santa Teresinha. Nessa data a Igreja celebra a memória de Teresa de Lisieux, essa francesa que viveu no final do século XIX e que se tornou uma santa imensamente popular. Mais que isso: tendo vivido apenas 24 anos e sendo mulher, realizou a façanha de ser proclamada doutora da Igreja, título concedido àqueles considerados como autores de uma doutrina espiritual exemplar. Além dela, apenas duas outras mulheres receberam tal título até hoje: Catarina de Sena e Teresa de Ávila.


"História de uma alma" é o nome que receberam os manuscritos autobiográficos de Teresinha. Sim, ela escreveu uma autobiografia por orientação de suas superioras, no mosteiro carmelita em que passou os últimos anos de sua breve vida. Li o livro pela primeira vez quando tinha 16 anos e, até hoje, lembro dos fortes sentimentos que ele me transmitiu. Teresinha conta detalhadamente sua vida, desde a mais tenra infância, com destaque para a perda da mãe quando tinha apena 4 anos, a relação com o pai e com as irmãs, a viagem a Roma, durante a qual solicitou ao papa que pudesse ingressar na Ordem Carmelita com apenas 15 anos. O livro transborda emoções exacerbadas a cada página, recordações dolorosíssimas, sentimentos elevadíssimos por seus familiares, interpretações sentimentais de cada situação vivida. Só hoje dei-me conta de que Teresinha bem pode ser enquadrada dentro do Romantismo, e é exatamente isso que ela é: uma alma romântica (não por acaso, ela também escrevia poesia...). Será que alguém já escreveu uma tese sobre isso?


A doutrina espiritual de Teresinha chama-se "a pequena via" e, basicamente, consiste em um retorno à simplicidade como meio de ter uma vida espiritual. Ela propõe que a "santidade" seja conquistada através da vida cotidiana, nas atitudes corriqueiras e pequenas, praticadas com amor. O que também não se distancia da visão romântica (e burguesa) da vida.


Hoje Teresinha é pop. Tornou-se a santa das rosas: diz-se que quem faz sua novena sempre recebe, inesperadamente, uma rosa dentro do período de 24 dias em que ela é realizada. A imagem da santa jovem carregando um crucifixo envolto em rosas tem um apelo que atinge desde as crianças até os idosos. Exatamente por isso, vem sendo amplamente utilizada pela Igreja em suas "campanhas publicitárias" desde o início do século XX, tendo sido uma das estrelas do papado João Paulo II, que a proclamou doutora em 1997, quando do 100º aniversário de sua morte. Continuo simpatizando com ela, mas não sei que efeito teria sobre mim uma nova leitura de seus escritos. Talvez eu tenha me tornado demasiado crítico para apreciá-los.

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