quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Uma aventura entre o sagrado e o profano

Aqui em Pelotas, acontece todos os anos durante o mês de outubro a Romaria de Nossa Senhora de Guadalupe. Um santuário dedicado à santa foi construído no Distrito de Cascata, distante 25 quilômetros da cidade, e para lá se dirigem milhares de romeiros na data da festa. O detalhe é que, entre esses milhares, algumas centenas vão para lá a pé e durante a noite. Na noite anterior à festa, uma grande caravana a pé parte à meia-noite da igreja Santa Teresinha, atravessa os mais de vinte quilômetros de estrada de chão e chega ao santuário ao amanhecer.
Esse ano a romaria aconteceu no fim-de-semana retrasado e, entre as centenas de romeiros pedestres, estávamos eu e um amigo meu. Eu havia lido na internet alguma coisa sobre a tal peregrinação, e o texto dizia que muitos jovens não ligados à igreja também participavam da caminhada, por seu espírito aventureiro. Foi o que nos atraiu e foi exatamente o que constatamos. Grande parte dos participantes praticamente ignorava o caráter religioso da caminhada. Estavam mesmo era participando de uma aventura, uma balada itinerante ou um simples teste aos limites das próprias pernas. E que teste! Quando parecia que já havíamos extrapolado os confins do universo, ainda havia estrada pela frente!


O santuário, que fica em uma grande área verde

Foi uma experiência diferente, mas que não pretendemos repetir, por vários motivos. A exaustão a que se é submetido é o primeiro deles. Exaustão que impede, por exemplo, que se aproveitem as festividades do dia no santuário. Estávamos tão cansados que, pouco depois de chegar ao destino (local lindíssimo, diga-se de passagem), tomamos um ônibus e voltamos para casa. Além disso, por ser durante a noite, não se vê quase nada ao longo do caminho, que atravessa diversas localidades rurais de Pelotas, com suas paisagens certamente encantadoras, mas que permanecem desconhecidas por causa da escuridão. O que vimos no que restava de estrada após o amanhecer nos provou isso: quando a luz surgiu, nos vimos em um lugar belíssimo. Ficamos, então, imaginando que lindos lugares havíamos visitado, literalmente, às cegas...

A paisagem bucólica que se revelou quando amanheceu

Conclusão: para o ano que vem já temos planos, caso estejamos em Pelotas no dia da romaria. Planos que não incluem a jornada a pé! Ou iremos de ônibus na noite anterior e passaremos a noite no santuário (como várias pessoas fizeram, acampando por lá), ou iremos apenas para aproveitar as festividades. De qualquer forma, foi curioso estar durante uma noite em um ambiente no qual conviviam harmonicamente pessoas com uma atitude impregnada de sagrado - com seus cânticos, orações e intenções espirituais - e outras cuja atitude era totalmente profana, o que ficava evidente nas conversas, nas músicas cantadas ao violão e até nas bebidas alcoólicas levadas por alguns... Não presenciei brigas, discussões nem reprimendas por parte de nenhum dos grupos quanto ao comportamento do outro. Todos eram peregrinos - da diversão ou da Virgem de Guadalupe - mas peregrinos.

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